10 ditadores que fizeram alguma coisa boa
Publicado em 4.06.2016
A história está cheia de ditadores que
governaram através do medo e da violência, e dos quais não queremos nem
lembrar. Mas, da mesma forma que um relógio quebrado está certo duas
vezes ao dia, alguns dos ditadores mais infames ocasionalmente fizeram
coisas boas para os países que lideraram.
Isso não significa que estão desculpados pelas atrocidades que cometeram, é claro. No entanto, esse é um lembrete de que nada na vida é tão simples, e de que ninguém é somente bom ou mau. Confira:
10. Hitler liderou uma das primeiras campanhas contra o cigarro
Adolf Hiltler criou um programa de saúde que salvou, estima-se, a vida de 20.000 mulheres. Claro que essa conquista perde um pouco de seu brilho tendo em vista que o mesmo cara ordenou o assassinato em massa de pelo menos 11 milhões de pessoas que ele considerava indesejáveis, incluindo judeus, homossexuais, ciganos, comunistas e deficientes.
Cientistas nazistas foram incentivados a pesquisar os perigos do tabagismo e, em 1939, Franz Muller produziu o primeiro estudo epidemiológico ligando cigarros ao câncer. Em 1943, pesquisadores alemães haviam mostrado conclusivamente que fumar causava câncer de pulmão. Infelizmente, esses estudos foram esquecidos no caos que seguiu a guerra e levou mais uma década até pesquisadores norte-americanos começarem a chegar às mesmas conclusões. Ainda assim, a campanha antitabagismo nazista salvou a vida de milhares de mulheres (que foram mais alvejadas pelas propagandas do que os homens, muitas vezes com “força policial”).
9. Genghis Khan introduziu leis e liberdade religiosa
Genghis Khan correu toda a Eurásia destruindo impérios antigos e matando um número estimado de 40 milhões de pessoas. Mas ele não era apenas um ditador maníaco – ele tinha a intenção de construir uma nação mongol, e tomou certas decisões importantes em direção a esse objetivo.
Em 1208, ele capturou um escriba chamado Tatar-Tonga, que adaptou o alfabeto Uygur para criar o primeiro alfabeto do idioma mongol. Genghis também criou um código legal e o aplicou em todo o seu império. Surpreendentemente, Genghis insistiu em que essas leis deveriam aplicar-se a ele também, bem a como seus súditos. Em um mundo onde monarcas e outros governantes se consideravam acima da lei, este foi um passo à frente incrível (seus herdeiros quase imediatamente desistiram dessa ideia, no entanto).
Genghis ainda tornou seu irmão adotivo juiz supremo e encorajou-o a manter um registro de todas as decisões legais. Por fim, concedeu liberdade religiosa a todos dentro de seu império e ofereceu isenção fiscal a locais de culto. Ele era conhecido por ser muito espiritual, rezando antes de campanhas e discutindo religião e filosofia com estudiosos como o taoísta Qiu Chuji.
8. Ashurnasirpal deu a maior festa da história para seu povo
Ashurnasirpal II foi um poderoso rei assírio que governou de 883-859 aC. Ele também amava esfolar rebeldes vivos. Em um exemplo, ele orgulhosamente se gabou de que ter esfolado muitos nobres que se haviam rebelado contra ele, colocando suas peles sobre uma pilha de cadáveres. O rei também era conhecido por queimar seus inimigos vivos, arrancar seus olhos, ou deixá-los no deserto para morrer de sede. Mesmo para os padrões da época, isso era um pouco excessivo.
Mas Ashurnasirpal não era apenas um psicopata esfolador. Ele também podia ser bastante generoso com seus súditos. Entre outras coisas, o ditador deu possivelmente a maior festa do mundo antigo. O festival tinha como objetivo comemorar a criação de uma nova cidade chamada Kalhu. De acordo com inscrições assírias, cerca de 69.574 pessoas foram convidadas a partir de todo o império e além.
Durante 10 dias, Ashurnasirpal deu-lhes comida, bebida, banho, antes de enviá-los de volta para suas terras em “paz e alegria”. Até mesmo o menu sobreviveu, listando 1.000 bois, 14.000 ovelhas especialmente importadas, 10.000 peixes, 10.000 ovos e 500 gazelas. Curiosamente, estudiosos notaram que Ashurnasirpal não tinha qualquer necessidade política para fazer o festival. Nenhum outro governante assírio fez coisa semelhante. O monstruoso rei provavelmente só queria mostrar sua nova cidade e dar uma grande festa.
7. Gaddafi iniciou o maior projeto de irrigação do mundo
Muammar Gaddafi tomou o poder em um golpe de estado em 1969. A Líbia tornou-se um pesadelo, onde os inimigos do seu regime eram regularmente presos e assassinados. Mesmo fugir para o exterior não ajudava, já que Gaddafi tornou-se conhecido por enviar assassinos atrás de dissidentes líbios exilados. Ele também era um entusiasta do terrorismo. Mais notoriamente, agentes líbios foram responsabilizados pelo bombardeio do voo 103 da Pan Am, que explodiu sobre Lockerbie, na Escócia, matando 270 pessoas.
Gaddafi foi destronado em 2011, deixando um país devastado pela guerra civil. Mas ele não só fez mal para o povo da Líbia. Sob a sua liderança, os líbios ganharam ensino gratuito, saúde e eletricidade, além de habitação e transporte subsidiados. Por outro lado, a Líbia era um país de seis milhões de pessoas e US$ 32 bilhões em receitas de petróleo anuais, mas ainda ostentava 30% de desemprego e pobreza generalizada. Com esse contexto, os programas sociais de Gaddafi parecem menos como a generosidade do governo e mais como o mínimo necessário a ser feito em uma nação onde a elite engolfava bilhões de dólares.
Mas Gaddafi pode gabar-se de pelo menos um projeto verdadeiramente impressionante. A Líbia é um dos países mais secos do mundo, dependente de chuvas esparsas ao longo da costa, aquíferos subterrâneos e projetos de dessalinização caros. Quando Gaddafi chegou ao poder em 1969, muitos aquíferos costeiros tinham sido poluídos por água do mar. A cidade de Benghazi estava praticamente sem água potável. Então, o ditador desenvolveu o Great Man-Made River Project (algo como “grande projeto de rio feito pelo homem”), um plano extremamente ambicioso para bombear água de aquíferos gigantes do sul isolado para o norte populoso do país.
As duas primeiras fases do projeto foram concluídas nos anos 90, trazendo um suprimento confiável de água fresca a 70% da população da Líbia. Isso exigiu uma rede de 1.300 poços e 5.000 quilômetros de tubos. O sistema é capaz de bombear cinco milhões de metros cúbicos de água por dia e os aquíferos são grandes o suficiente para fornecer água para os próximos 1.000 anos.
Havia também planos de expandir o sistema e criar grandes fazendas em áreas previamente improdutivas. No entanto, a obra diminuiu de tamanho na década de 90, devido às sanções impostas após o atentado de Lockerbie, e parou completamente durante a guerra civil de 2011, quando bombardeios da OTAN destruíram uma fábrica chave (um lembrete de que o Ocidente gosta de se meter em tudo, mas às vezes atrapalha mais do que ajuda).
6. Fidel Castro revolucionou a saúde e a educação de Cuba
Depois de tomar o poder em 1959, Fidel Castro transformou Cuba em uma ditadura de partido único, forçando dezenas de milhares de cubanos ao exílio, executando vários dissidentes e jogando muitos outros na prisão. Seu governo é considerado um dos piores violadores dos direitos humanos que já existiu.
Tão deplorável quanto o governo de Castro foi, ele pode gabar-se de alguns progressos genuínos. Por exemplo, os EUA e Cuba têm expectativas de vida mais ou menos iguais, apesar do gasto americano ser 20 vezes maior per capita em cuidados de saúde. Isto pode ser atribuído ao sistema de saúde nacional de grande sucesso posto em prática por Castro, apesar do fato de que metade dos médicos de Cuba fugiram do país imediatamente depois que ele assumiu o poder.
Em 1959, quase um quarto da população adulta de Cuba era analfabeta. Hoje, o analfabetismo adulto é quase inexistente. Ainda, depois da revolução, o regime de Castro deu terreno a agricultores sem-terra, criou novas habitações para substituir favelas, e introduziu um sistema de educação universal.
Castro também fez um excelente trabalho na preparação para furacões. Cada bloco em Cuba tem um capitão responsável em ajudar com evacuações (que são obrigatórias), enquanto ônibus e caminhões públicos levam as pessoas para abrigos designados. Os resultados falam por si: quando o furacão Gustav atingiu Cuba, nem uma única pessoa morreu. O mesmo furacão, em seguida, matou 26 pessoas no estado americano da Louisiana, o que fez o diplomata norte-americano Wayne Smith concluir que “há muito que os Estados Unidos podem aprender com sistema de resposta a furacões de Cuba”.
5. Napoleão foi o pioneiro na criação do código legal francês
Napoleão Bonaparte carregou a França através de alguns dos mais sangrentos conflitos da Europa. Estima-se que dois milhões de pessoas morreram como resultado direto de suas guerras, enquanto outro milhão de civis foram provavelmente vítimas indiretas de suas campanhas. A luta foi particularmente brutal na Espanha, onde as forças de Napoleão levaram a cabo execuções generalizadas de suspeitos guerrilheiros.
Apesar de toda sua brutalidade, no entanto, Napoleão era pelo menos um semi-fã de princípios iluminados. Por exemplo, ele promoveu o sistema de leis conhecido como Código Napoleônico, agora considerado um dos documentos mais influentes na história do mundo.
O Código enraizou o princípio de que todos os cidadãos do sexo masculino deveriam ser considerados iguais, sem privilégios de classe hereditários, e delineou os direitos e deveres dos cidadãos na sociedade. Também estabeleceu liberdade religiosa e garantiu que o governo respeitasse a propriedade privada. Variações do código foram adotadas pela maioria dos países da Europa e América do Sul, além de ser uma grande influência para reformadores na Ásia também.
No entanto, o Código tinha grandes falhas, como a determinação de que as mulheres não deveriam compartilhar dos mesmos direitos, mas sim deveriam ser consideradas subordinadas a seus maridos.
4. Augusto Pinochet influencia a economia do Chile do hoje
Durante o reinado do ditador chileno Augusto Pinochet, mais de 3.000 pessoas foram permanentemente “desaparecidas”. O seu regime também prendeu dezenas de milhares e brutalmente torturou pelo menos 28.000 dos seus “inimigos”. Entre os torturados estão a atual presidente do Chile, Michelle Bachelet, e sua mãe.
Sob o governo do presidente socialista Salvador Allende, os salários no Chile cresceram e muitos setores da economia do país foram nacionalizados. No entanto, em 1972, a economia tinha começado a estagnar e a inflação atingiu 500% em seu pico. Em 1973, Pinochet, que era comandante-em-chefe do exército, chegou ao poder em um sangrento golpe apoiado pela CIA, que resultou na morte de Allende. Ele logo recrutou uma equipe de economistas da Universidade de Chicago para restaurar a estabilidade econômica do país. Os americanos propuseram uma política neoliberal, incluindo a remoção de barreiras comerciais e regulação estatal de comércio, bem como impostos e um programa de privatização.
O que aconteceu em seguida é sujeito a debate. Se Pinochet fez uma coisa boa com a economia do Chile ou não é algo bastante questionável. Não há dúvidas de que suas ações reverberam até hoje, no entanto.
Algumas pessoas têm chamado o período de “Milagre Econômico Chileno”, já que a inflação caiu de 375% em 1975 para 9,9% em 1982. O PIB do Chile cresceu 8% em 1977 e 1979 e alcançou 10% em 1989. No entanto, outros salientam que o PIB na verdade caiu 16% em 1982 e 1983, como parte de uma crise econômica que praticamente eliminou o setor financeiro do país. O crescimento econômico que ocorreu na maior parte beneficiou somente a classe alta, aumentando muito a disparidade de renda.
As reformas econômicas de Pinochet acabaram por resultar em crescimento econômico global e em grande parte permanecem até agora. Enquanto isso, os 20% dos chilenos mais ricos ainda ganham 14 vezes mais do que os 20% mais pobres.
3. Zia-ul-Haq supervisionou uma economia em expansão
Sob o regime islâmico linha-dura de Muhammad Zia-ul-Haq, a perseguição estatal era normal no Paquistão, com mulheres, dissidentes políticos e minorias particularmente propensos a ser alvos. Um exemplo notável foi o seu tratamento da seita Ahmadiya – o culto foi criminalizado e seus seguidores muitas vezes foram condenados à morte por violar leis de blasfêmia.
Mas Zia-ul-Haq também supervisionou um período de crescimento econômico sustentado. Durante seu tempo no governo, entre 1977 e 1988, o crescimento do PIB foi em média de 6% ao ano, o rendimento agrícola aumentou 4% ao ano, e a fabricação registou um crescimento de 9% ao ano. Parte disso foi devido à liberalização da economia, o que incentivou o crescimento do setor privado. Várias indústrias públicas também foram desnacionalizadas (os bancos foram uma notável exceção). Ele também encorajou o livre comércio.
Zia-ul-Haq morreu em um acidente de avião em 1988.
2. Rafael Trujillo conquistou estabilidade e prosperidade
Rafael Trujillo subiu ao poder em 1930 e governou a República Dominicana com mão de ferro até ser assassinado em 1961. Como todos nesta lista, foi um dos piores seres humanos que o mundo já viu. Suas forças torturaram e assassinaram qualquer um que se opunha a ele, jogando os corpos aos tubarões.
Em 1937, ele ordenou o assassinato de cerca de 20.000 haitianos vivendo na República Dominicana. Seus capangas se espalharam através das fronteiras, exigindo que os camponeses dissessem a palavra espanhola “perejil”. Qualquer pessoa considerada como tendo um sotaque do Haiti era imediatamente morta.
Sem surpresa, Trujillo não era popular. Apesar disso, a República Dominicana viu um certo aumento no padrão de vida durante o seu reinado. Houve melhorias em saneamento e seu regime construiu hospitais, estradas e escolas. Claro, Trujillo e seus comparsas desviaram uma parte significativa do orçamento de obras públicas por meio de propinas e peculato. Mas Trujillo pagou toda a dívida do país, manteve a moeda estável e construiu e melhorou aeroportos e edifícios públicos, trazendo um certo grau de prosperidade do qual o país não dispunha anteriormente.
1. Periander foi um governante sábio e cruel
Periander foi um tirano da cidade grega de Corinto em cerca de 627-587 aC. De acordo com Heródoto, quando Periander assumiu o trono, ele enviou um mensageiro a um outro tirano grego pedindo conselhos. O tirano levou o mensageiro para um passeio em um campo de trigo, enquanto cortava todas as plantas mais altas. Periander entendeu a mensagem e assassinou ou exilou todos os cidadãos mais talentosos de Corinto, que poderiam um dia desafiar seu governo.
Sua crueldade chegou a chocar seus companheiros gregos. Por exemplo, quando navios de Corinto ancoraram na ilha de Samos com os filhos de 300 cidadãos importantes que seriam castrados e vendidos como escravos, os samianos ficaram tão horrorizados que disseram aos meninos para se refugiarem no templo de Artemis, impedindo os soldados coríntios de recuperá-los.
É dito também que Periander matou a própria esposa, chutando-a quando ela estava grávida. Depois, sentiu remorso e queimou vivas as concubinas que ele culpava pela briga.
Parece que Periander foi apenas um enorme babaca, mas, aparentemente, ele também fez muito para melhorar a cidade que governou. O tirano forjou alianças com estados gregos e não gregos e melhorou o comércio com o Mediterrâneo ocidental. Ainda negociou a paz entre Atenas e Mitilene e estabeleceu colônias na península balcânica. Por fim, patrocinou a construção de uma passagem através do istmo de Corinto, a fim de reduzir o tempo gasto em transporte dos navios.
Poetas foram convidados a sua corte e o estilo arquitetônico dórico foi estabelecido durante o seu reinado. Após sua morte, ele se tornou conhecido como um dos Sete Sábios da Grécia, e foi creditado com a escrita de uma coleção de cerca de 2.000 versos. [Listverse]
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