quinta-feira, 17 de setembro de 2015

OBSERVADOR - 17 DE SETEMBRO DE 2015


Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!


Já começou, mesmo que a pouco e pouco. O novo ano lectivo está a arrancar, uma semana mais tarde desta vez, mas sem os problemas que se verificaram há um ano. Como é habitual, vimos o ministro nas televisões, assim como as suas sombras, isto é, Mário Nogueira e os outros dirigentes sindicais. Os debates não foram especialmente instrutivos nem elucidativos, antes muito repetitivos, pelo que, neste Macroscópio, vou optar por me afastar deste ritual mediático que se repete todos os anos. Em vez disso andaremos por terrenos bem diferentes, como verão.

Primeiro, o das recomendações de início do ano. Há-as para todos os gostos, mas talvez a mais original de todas (já irei às outras) seja o Guia para o estudante que acabou de chegar a Lisboa, um trabalho de Tiago Pais no Observador que substitui, com vantagem, os guias que as nossas universidades deviam dar a quem vem estudar para a capital. Organizado em cinco capítulos (I — Acabei de chegar. Por onde começo?; II — Ainda não tenho casa. Devo preocupar-me?; III — Jantares, festas, ressaca, repetir. Mas onde?; IV — O que não posso perder em Lisboa? e V — Os exames estão aí. E que tal estudar (um pouco)?), este guia tanto lhe explica como funcionam os transportes públicos em Lisboa, como lhe diz as boas bibliotecas ou cafés onde estudar é um regalo, como acrescenta as indispensáveis sugestões para noites longas com pouco dinheiro na carteira. Lendo-o ficará a conhecer, por exemplo, cinco tascas lisboetas no eixo Bairro Alto/Cais do Sodré, cinco lugares onde de mesa em conta e onde até corre o risco de encontrar algum jornalista aqui desta casa (o Observador, como os velhos jornais lisboetas, tem sede no Bairro Alto – somos modernos mas há tradições que são tradições, pelo que viemos fazer companhia a “A Bola”, o único que por cá ainda morava).

Mas se este trabalho se dirige aos que chegam a Lisboa, já aquele que a Ana Dias Ferreira desenvolveu - Como escolher a mochila do seu filho – vai ao encontro das preocupações da generalidade dos pais, pois o peso que os miúdos são obrigados a carregar diariamente é tudo menos razoável. De novo estamos perante um texto muito prático: Mochila ou pasta — ganha mesmo a primeira?; Como deve ser a mochila?; Qual é então o peso máximo que uma criança deve transportar?; Com muito peso, as mochilas com rodinhas são uma boa opção?; e Há alguma forma mais correta de arrumar os livros? Os conselhos não são gratuitos e muito menos bitaites, pois o Observador foi falar com o neurocirurgião Paulo Pereira, vice-presidente da Sociedade Portuguesa da Patologia da Coluna Vertebral e coordenador nacional da campanha de sensibilização Olhe Pelas Suas Costas.

Alguns destaques de outros órgãos de informação, seguindo sempre o critério de ir mais para as questões práticas e humanas:
  • O Público recolheu vários testemunhos que reuniu em O regresso às aulas na primeira pessoa, transmitindo perspectivas de pais, alunos, professores e directores escolares. Há quem esteja sobretudo preocupado com as médias (ou com os exames), quem explique o que é ficar colocado muito longe de casa, quem se queixe dos preços absurdos dos materiais escolares ou quem dê conta de como a demografia tem vindo a esvaziar muitas escolas.
  • O Expresso Diário (link para assinantes) abordou um tema que, tendo passado também por outros órgãos de informação, não pode ser ignorado: o papel dos computadores nas escolas. Em Os computadores não salvam a Educação, Isabel Leiria parte de um relatório da OCDE  - “Students, Computers and Learning: Making The Connection” - em que foram analisados 31 países e se chegou à seguinte conclusão: “Em nenhum dos casos onde a maioria dos alunos usa a Internet na escola de forma frequente se registou uma melhoria do desempenho”. Mais: “Regra geral, podemos dizer que a relação entre o recurso a computadores no ensino e o desempenho dos alunos se pode traduzir numa curva com o formato de uma montanha: o uso limitado pode ser melhor do que a interdição total, mas níveis de utilização acima da média da OCDE estão associados a resultados significativamente piores”. O trabalho adianta algumas possíveis explicações, interessantes de ler face à nossa história recente neste domínio.

Aproveito agora o facto de estamos a falar de regresso às aulas para ir até um debate que podia, e devia, estar mais presente na nossa campanha eleitoral: o de saber que grau de autonomia podem ter as escolas; quem pode geri-las, mesmo estando elas integradas na oferta pública; e que grau de liberdade de escolha podem e devem ter os pais. Trata-se de um tema que tem gerado enorme discussão sobretudo no mundo anglo-saxónico, como os sindicatos a defenderem modelos mais centralizados e estatistas, modelos esses que têm sido desafiados não apenas pelos partidos mais à direita, mas também por forças mais à esquerda (como aconteceu com o primeiro responsável pela Educação na Administração Obama).

Sem querer, nem poder, entrar muito neste debate, deixem-me sugerir apenas alguns textos que, reflectindo precisamente experiências dos Estados Unidos e do Reino Unido, abordam uma discussão que, entre nós, ainda é tabu, ou quase.

Um dos exemplos mais citados da transformação radical de um sistema de ensino, passando de um modelo centralizado para um em que as escolas têm autonomia e os pais liberdade de escolha é o de New Orleans depois do furação Katrina, como se esceve na Forbes, Hurricane Katrina Washed Away The Public School System, And New Orleans Built It Back Up With Charter Schools. Os resultados têm sido muito bons, apesar de continuar a haver críticas. Este artigo fornece alguns números: “In 2007, just 23% of students in the Recovery School District, which was designed to transform the worst schools in the state, were scoring at a proficient level on the statewide assessments. Today, that number is 56%. New Orleans also ranks among the top large, urban school districts on graduating Black males, with a rate of 65%, which exceeds both the state and national averages of 59%.” Como também explica, em termos gerais, como funciona este novo sistema, é uma boa fonte de informação.

Uma leitura complementar, encontrada na CNN: New Orleans shows value of school choice. O autor é Bobby Jindal, governador da Luisiana e candidato republicano, que sublinha os bons resultados do novo sistema:
The turnaround since 2005 shows a true Louisiana comeback:
-- Before Katrina, only 54% of students in the city were graduating from high school on timenow 73% are.
-- Before Katrina, the percentage of New Orleans' students on grade level was 35%; now it's 63%.
-- Before Katrina, only 32% of black students in New Orleans were at or above grade level, compared to 40% of black students statewide. Now, 59% of black students were at or above grade level compared to 54% statewide.
-- Before Katrina, 64% of schools were considered failingnow, about 11% are, even though we have raised the bar for what constitutes failure several times since.

Passando dos Estados Unidos para o Reino Unido, onde a reforma educativa esteve no centro da recente campanha eleitoral – até porque foi uma das áreas onde a anterior coligação entre conservadores e liberais inovou mais –, a polémica prossegue, sendo que o novo líder dos trabalhistas quer fazer marcha-atrás e regressar a um sistema de total controle estatal do sistema educativo. Não é ainda claro em que direcção prosseguirá aquilo a que alguns já chamam revolução, como se lê neste artigo de Sebastian Payne na Spectator: The Free Schools revolution marches on — if Cameron holds his nerve. Cameron promete mais 500 escolas deste tipo no seu segundo mandato, uma opção que o secretário da Educação, Nicky Morgan, defende nos seguintes termos: “We know that free schools don’t just give parents greater choice, they also force existing schools to up their game. Today’s news sends a clear message that we are committed to extending this unprecedented level of choice to more parents than ever before.”

Se a perspectiva da Spectator é, como se esperaria naquela revista, claramente favorável a esta evolução, não deixa de ser significativo que na Prospect, uma revista centrista aberta a vários pontos de vista, se escreva sobre The London schools revolution: Something remarkable has happened in the capital's schools. O artigo já tem alguns meses, é bastante mais longo e exaustivo e também sublinha a importância das reformas introduzidas durante os anos de Tony Blair. Nele se conclui que “It seems clear that an experimental culture has developed in London, one in which teachers, schools, governors and local government have been willing to innovate in the hope of improving their schools.” Mesmo sem poder chegar a conclusões sobre o peso dos diferentes factores que mudaram radicalmente o ambiente escolar na capital do Reino Unido, defende-se no artigo que “It is also clear that London’s turnaround would not have happened without a culture of accountability.”

E por aqui termina o Macroscópio de hoje. Longe da campanha, mas perto de problemas que preocupam não apenas a comunidade escolar, mas todos os que desejam um melhor sistema educativo.

Até amanhã, com votos de bom descanso e boas leituras.

 
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ANTÓNIO FONSECA

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