Macroscópio – Com a devida vénia a RAP, aqui fica uma miscelânea de temáticas
Macroscópio – Com a devida vénia a RAP, aqui fica uma miscelânea de temáticas
Hoje é Dia do Pai, e um pai tem obrigações (de horários, ao menos uma vez por ano). Para além disso, a reflexão sobre a atualidade está muito dispersa por temáticas diferentes, pelo que, sem me querer substituir ao Ricardo Araújo Pereira, o Macroscópio de hoje é muito uma miscelânea. De temas diversos.
Ricardo Salgado está, no momento em que escrevo, a ser ouvido no Parlamento. No Observador tínhamos preparado um trabalho -Salgado regressa. Banca, mentiras e gravações - sobre 10 dúvidas essenciais a que deveria responder depois de 39 audições da comissão de inquérito. Helena Garrido, no Jornal de Negócios, também pediu respostas. Em Salgado ou quem sabia disto tudoescreveu:
A família de Ricardo Salgado, o "commissaire aux compte", Álvaro Sobrinho e os primeiros dois capítulos da auditoria forense desmentiram quase toda a narrativa de Ricardo Salgado. Hoje, ao ouvirem pela segunda vez Ricardo Salgado, os deputados têm nas suas mãos informação mais do que suficiente para colocarem questões mais directas ao ex-presidente do BES.
É cedo para um balanço, mas se quiser seguir a audição ao vivo, o Observador volta a dar-lhe toda a informação necessária ao minuto.
Helena Matos, como sabem os seus leitores, é uma desmancha-prazeres que não gosta de ir com as maiorias. Fá-lo hoje de novo, no Observador, num texto desafiador - Se a parvoíce do Governo pagasse imposto Portugal não tinha crise – onde desafia alguns dos consensos dos nossos habituais fóruns:
Prosseguindo na senda da desigualdade: quantos de nós não gostaríamos de chegar e estacionar à porta dos edifícios municipais ou ter direito a carro com motorista? Pois é, mas não temos. Não duvidando eu dos abusos que se cometem nestas áreas (particularmente por uns titulares desses cargos que em público abominam o automóvel e nos mandam deslocar de bicicleta!) e defendendo que devia ser muito maior o escrutínio sobre a extensão desses direitos, não contem comigo para fazer a apologia do “acabemos já com estas desigualdades” a que se segue o consensual “isto é uma pouca vergonha” que conduz ao inevitável “têm de rolar cabeças”. Às vezes rolam as melhores mas isso para o caso não interessa nada: tem é de se mostrar à turba a cabeça que rolou.
Deixo agora Portugal e os nossos “casos” e “casinhos” para ir para uma região onde coisas bem mais sérias se passam: o mundo árabe e o Médio Oriente. Alguns textos que deixo à vossa consideração:
- Na Tunís ia, o único país onde a “primavera árabe” ainda parecia resistir, ela pode ter acabado ontem. Pelo menos é isso que defende Nicholas Noe, um especialista que escreve habitualmente a partir de Beirute e de Tunes, na Tablet: It’s Not Springtime in Tunisia Anymore. O seu argumento é claro e directo: “Tunisia is, quite simply, a country unable to protect the real progress it has made over the last four years. Its people are not familiar with violent conflict, its army isn’t ready, and its body politic is deeply and often personally divided, despite the statements over the last 24 hours about national unity.”
- Cont inuando na Tunísia, chamo a atenção para a análise do El Pais, Terrorismo y democracia en Túnez. Aí se recordam alguns factos essenciais: “Salafistas y yihadistas se han desenvuelto con mucha facilidad en Túnez. Una amnistía general después de derrocado el presidente Ben Alí permitió a muchos de los últimos salir de prisión. Sólo a mediados de 2013, tras el asesinato de dos importantes dirigentes de la oposición, los islamistas de Ennahda se distanciaron de AST y la designaron organización terrorista. Mientras, Túnez se convertía en el país donde la movilización yihadista relacionada con Siria e Irak alcanzaba mayores cotas. Hasta 3.000 tunecinos se han unido allí al EI o al Frente Al Nusra. Unos centenares han retornado. Otros se reubicaron con el EI en Libia.”
- O Telegraph também nos chama a atenção para este paradoxo em Terrorism and tourism: the two faces of Tunisia. De facto, sublinha aquele jornal, “The deadly attack on the Bardo Museum shows why this birthplace of the Arab Spring has exported up to 7,000 fighters to the Islamic State”.
- Mas as coisas nesta região do mundo nunca são claras ou lineares. Por isso chamou-me a atenção um artigo do El Mundo - Un columnista de 'The New York Times' plantea que EEUU arme al Estado Islámico – que discute uma opinião d e Thomas Friedman, alguém que já ganhou três Prémios Pulitzer. A sua tese, no essencial, é que o Estado Islâmico é, antes do mais, uma reacção do Islão sunita ao avanço do Islão xiita (Irão, maioria no Iraque, domínio na Síria). O tema, por mais estranho que pareça, não é novo, como conta o diário espanhol: “La idea de armar a grupos terroristas radicales que éstos combatan a Irán no es exclusiva de Friedman. Según el diario 'The Wall Street Journal' es, de hecho, parte de la política del Gobierno de Israel, que habría dado tratamiento médico a cientos de heridos del Frente al-Nusra, la rama siria de Al Qaeda. La noticia -que también ha sido publicada por el diario israelí Jerusalem Post - explica que e l Frente al-Nusra, que es suní, combate al régimen de bachi Asad y a sus aliados chiíes de Hezbolá, ambos apoyados por Irán.”
- Esta questão remete-nos, naturalmente, para o Irão. Robert Kaplan, um especialista que é senior fellow do Center for a New American Security, defende no Real Clear World aquilo que designa como Iran's Great Cultural Advantage. Eis um dos seus argumentos: “The modern state of Iran is heir to the imperial civilization of ancient Persia. Its territory broadly aligns with the Mede, Parthian, Achaemenid, Sassanid, Qajar, and Pahlevi states and empires, who se spheres of influence often extended from the Mediterranean to Central Asia. Persia was the ancient world's first superpower, and a bold if sometimes broken line connects the Persian monarchs of antiquity to the ayatollahs of today, whose very aggression is rooted in the geopolitics of their forebears. There are many Arab states, but there is only one Persian state - a state that has historically dominated its immediate Arab neighbours with its ample resources of cultural wealth and political organization.”
Vou agora terminar com um duplo desejo: que amanhã o céu de Portugal não esteja muito nublado e que todos possam desfrutar de mais um raro eclipse do Sol. Se o quiserem fazer, não deixem de passar por dois trabalhos do Observador: Prepare-se para a beleza (e o perigo) de um eclipse solar, onde além de se explicar a ocorrência de uma rara tripla coincidência (eclipse, super-lua e equinócio da Primavera) e os cuidados a tomar, se indica a que horas o fenómeno será visível em todas as capitais de distrito e se sugerem algumas formas engenhosas (e seguras) de o observar. E, claro, também fizemos uma Explica-me sobre o que é um eclipse.
Com um Macroscópio um pouco mais breve do que é costume, despeço-me até amanhã. Bom descanso, boas leituras, e não se esqueçam que é ainda Dia do Pai.
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ANTÓNIO FONSECA
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