terça-feira, 20 de janeiro de 2015

OBSERVADOR -MACROSCÓPIO - 19 DE JANEIRO DE 2015

Macroscópio – Mais um semana com os olhos postos na Europa‏

Macroscópio – Mais um semana com os olhos postos na Europa

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19-01-2015
 
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Para: antoniofonseca1940@hotmail.com

Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!

 
O Macroscópio está hoje de regresso, depois de uma semana de ausência para que o seu autor pudesse gozar umas curtas férias. E regressa no início de uma semana intensa na União Europeia. Enquando prosseguem as conversações entre os vários governos para deliberarem sobre novas medidas de segurança, com a revisão do acordo de Shengen na agenda – tema que já suscitou um comentário crítico a Paulo Almeida Sande e uma reflexão importante a Alexandre Homem Cristo –, esta é a semana em que se espera que o Banco Central Europeu delibere sobre o famoso “Quantitative Easing” e a semana em que se sustém a respiração à espera do resultado das eleições gregas. Vamos começar hoje por falar um pouco da próxima decisão do BCE.
 
Primeiro, importa perceber o que está em causa, e para isso nada melhor do que um Explicador. O Edgar Caetano preparou um para os leitores do Observador - O BCE vai mesmo fazer o impensável? – e vale a pena lê-lo não só para perceber o que é “Quantitative Easing” como para ter uma ideia do efeito que o plano de compra de dívida pública pode ter na economia real. Pequeno extrato da resposta à pergunta “E vai resultar?”:
Os analistas já estão a tentar antecipar o nível de eficácia que esta medida,a confirma-se, terá. Alberto Gallo, economista do Royal Bank of Scotland, diz que “por si só, o programa Q.E. terá um impacto limitado”. “Produzirá um efeito através das exportações e da desvalorização da divisa, mas não tanto através do efeito-riqueza ou do ponto de vista do investimento/consumo ou, ainda, da expansão do crédito”. O próprio Mario Draghi, presidente do BCE, já reconheceu que a política monetária, por mais medidas que a instituição tome, não conseguirá, sozinha, acelerar a recuperação económica na zona euro. Em entrevista recente, Draghi disse que “são necessários mais progressos estruturais importantes – mercados de trabalho mais flexíveis, menos burocracia, impostos mais baixos”. O jornalista doHandelsblatt perguntou: “Pode ser um pouco mais específico, Sr. Presidente? Que países da zona euro precisam de fazer mais esforços?”. “Todos“, respondeu.
O jornal digital Dinheiro Vivo também preparou um menos detalhado tutorial para seguir a reunião do BCE.
 
Ainda no domínio da informação, para quem quiser aprofundar as diferentes experiências de Quantitative Easing levadas a cabo nos últimos anos (em especial as da Reserva Federal dos Estados Unidos, do Banco de Inglaterra e do Banco do Japão, por contraponto à do BCE) há um paper muito recomendável, da Federal Reserve Bank of St. Louis Review, se bem que mais técnico: Four stories of Quantitativa Easing.
 
Esta discussão sobre o possível efeito das esperadas decisões do BCE tem marcado o debate europeu dos últimos meses, com os alemães a oporem-se a medidas monetárias mais agressivas enquanto, do outro lado, se argumento com a necessidade de Mario Draghi ser ainda mais agressivo. Num texto de hoje, o Telegraph regressa ao tema, partindo da seguinte interrogação:QE or not QE? That is the question facing ECB chief Mario Draghi. Eis como Peter Spence expõe os dilemas dos banqueiros centrais:
Thus far, Mr Draghi’s approach to fighting what is largely a southern European crisis has been piecemeal. Various stimulus packages – including purchases of covered bonds, asset-backed securities, offering cheap loans to banks, and negative interest rates – have failed to make a dent. (…) The ECB is stuck between a rock and a hard place. The central bank will have to decide between taking a political gamble now, or roll the dice on an even larger QE “bazooka” in the months after a Greek decision. There is a good chance that either option could go wrong.
 
Para compreender melhor o que está em causa no debate entre a maioria do BCE e a Alemanha vale a pena ler a análise do Financial Times de hoje, The eurozone: A strained bond. Eis como nele se expõe o ponto de vista alemão:
But for most Germans, QE is not the answer to the economic weakness of the eurozone’s more vulnerable members, with some believing it is a threat to the common currency’s financial stability. With long memories of the dangers of inflation dating back to the 1920s, Germans are scared that unleashing more liquidity into the already saturated eurozone economy will eventually trigger a horrendous price surge. Moreover, many Germans say monetary easing will postpone painful spending and borrowing cuts by giving weak states more financial wiggle room.
 
Do outro lado da barricada, entre os advogados de uma intervenção mais agressiva do Banco Central Europeu conta-se o conhecido colunista do mesmo Financial Times, Wolfgang Münchau. Ele voltou ao ataque na sua última coluna, também na edição de hoje, Why the ECB should not water down a QE programme. O seu argumento é que “I will withhold judgment on a QE programme until I see the details. I would opt for a large programme with risk sharing, and accept German litigation. (…) If the ECB, as I expect, opts to keep the risk on national balance sheets, then the overall impact of the programme will not be known until we have all the details and the legal small print. The effort may still be worthwhile. But a bazooka it is not.”
 
Uma das medidas que estará a ser discutida pelo BCE para evitar que o eventual default de um dos países abrangidos pelo programa de compra de dívida pública acabe por ter de ser pago pelos contribuintes de outros países é, como atrás se referiu, a transferência do risco para os bancos centrais nacionais. É uma solução que Paul De Grauwe e Yuemei Ji dão a entender que não seria necessária num artigo que publicaram no site Vox,Quantitative easing in the Eurozone: It's possible without fiscal transfers:
The ECB has been prevented from doing what is necessary, i.e. to increase the money base so as to maintain its objective of keeping inflation close to 2%. It has been prevented from acting as a result of an intense opposition of major German institutions and of a large segment of the community of German economists. The surprising thing about this opposition is that it has been based on a wrong interpretation of the fiscal implications of QE, i.e. that this will lead to fiscal transfers between member countries. One could have expected that German central bankers and German economics professors understand the nature of monetary policy in a monetary union. One is surprised that this knowledge has been set aside and a myth has been created that has helped to stir an irrational fear in Germany against the use of a monetary policy instrument that in most developed nations is considered to be best practice. 
 
Um artigo de Guntram B. Wolff, director do think tank europeísta Bruegel, vai ainda mais longe na defesa de que deve ser o BCE a assumir todas as despesas deste programa de estímulo à economia: Sovereign QE and national central banks - leaving national central banks to carry the default risk is impossible and dangerous.
 
Já Simon Nixon, no Wall Street Journal, em Are the Eurozone’s Pockets Deep Enough?, prefere sair um pouco deste quadro de discussão, para colocar problemas que têm sido pouco abordados no debate europeu. Primeiro, expressa a sua dúvida geral: “The big question is whether quantitative easing will prove to be the magic bullet for the eurozone that many have come to believe. Will it help revive the economy, as it has apparently done in the U.S. and U.K.? Or fail, as it has so far done in Japan?” Depois procura responder a esta dúvida, chamando a atenção, por exemplo, para a necessidade de um melhor funcionamento dos mercados financeiros. E conclui:
Only national governments can make capital-markets union a reality. The commission has so far identified a number of initiatives that would improve the efficiency of markets. But the biggest obstacles to deeper capital markets such as weak insolvency rules and poorly designed tax regimes lie outside the commission’s competence. Previous attempts to introduce Europe-wide reforms in these areas have run into fierce national resistance.
 
Regresso a Portugal para chamar a atenção para o editorial de hoje do Diário Económico, O ‘regresso’ de Draghi, no qual António Costa defende a ideia de que “Portugal poderá beneficiar indirectamente dos efeitos do ‘quantitative easing' na Europa, mas ainda vai precisar de mais para ter uma economia livre dos perigos da deflação”.
 
Já numa peça com um registo algo provocador, Martim Avillez Figueiredo referiu este último fim-de-semana, no Expresso, uma proposta a que chamou Dinheiro de helicóptero (link só para assinantes). O seu ponto de partida é o seguinte: “E se o Banco Central Europeu entregasse 5000 euros a cada português? Disparate? Um economista de Oxford acha que não”. O seu ponto de chegada é que essa medida poderia implicar menos dinheiro do que o envolvido no QE. Tentador…
 
Como vêem, a polémica prossegue. Pelo menos até quinta-feira. E isto se o BCE não voltar a adiar a sua decisão.
 
Bom descanso, boas leituras, e abriguem-se do vento que por aí sopra. 

 
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