sábado, 29 de novembro de 2014

NOTÍCIAS - OBSERVADOR - MACROSCÓPIO - (28-11) - 29 de Novembro de 2014

Macroscópio – Sugestões para um fim-de-semana na poltrona‏

Macroscópio – Sugestões para um fim-de-semana na poltrona

Observador (newsletters@observador.pt)
 
 
28-11-2014
 
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Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!


Com a imprensa nacional muito centrada numa actualidade pesada, agora que se inicia um fim-de-semana com uma meteorologia também pouco simpática, ficar em casa a ler alguns belos textos jornalísticos é sempre uma alternativa. Por isso o Macroscópio deixa-lhe hoje uma mão cheia de sugestões variadas para o ajudar a passar a noite de hoje e ainda os dois últimos dias deste mês de Novembro.
 
A primeira sugestão vai para um texto da New Yorker. Essa revista, célebre para qualidade das suas reportagens e investigações, editou um longo retrato de Angela Markel, “The quiet german - The astonishing rise of Angela Merkel, the most powerful woman in the world”. Depois de notar que “among German leaders, Merkel is a triple anomaly: a woman (divorced, remarried, no children), a scientist (quantum chemistry), and an Ossi (a product of East Germany)”, a revista nota que “these qualities, though making her an outsider in German politics, also helped to propel her extraordinary rise”. O interessante é perceber como, e é nesse exercício que este artigo merece ser destacado. Mesmo assim ele termina com um diagnóstico que, sendo tranquilo, também inquieta:
A political consensus founded on economic success, with a complacent citizenry, a compliant press, and a vastly popular leader who rarely deviates from public opinion—Merkel’s Germany is reminiscent of Eisenhower’s America. But what Americans today might envy, with our intimations of national decline, makes thoughtful Germans uneasy. Their democracy is not old enough to be given a rest.
 
Continuando na Alemanha, mas recorrendo agora à sua grande revista de referência, a Spiegel, há na sua última edição uma boa investigação sobre a forma como a Europa começou a perder a Ucrânia e a agravar os seus problemas com a Rússia – “Summit of Failure: How the EU Lost Russia over Ukraine”. O artigo descreve o que se passou numa sucessão de reuniões e episódios, que se iniciam em Fevereiro de 2010 e terminam no final de Novembro de 2013, ajudando a perceber como se chegou à actual crise e à situação de guerra do sudeste da Ucrânia. O episódio final tem por palco Vilnius nos dias em que Yanukovych optou por não assinar o acordo de associação com a União Europeia. Para a Spiegel é possível tirar algumas lições de todo este longo processo. Por exemplo:
More than anything, though, the Europeans underestimated Moscow and its determination to prevent a clear bond between Ukraine and the West. They either failed to take Russian concerns and Ukrainian warnings seriously or they ignored them altogether because they didn't fit into their own worldview. Berlin pursued a principles-driven foreign policy that made it a virtual taboo to speak with Russia about Ukraine. (…) Russia and Europe talked past each other and misunderstood one another. It was a clash of two different foreign policy cultures: A Western approach that focused on treaties and the precise wording of the paragraphs therein; and the Eastern approach in which status and symbols are more important.
 
Continuando na Europa, um dos temas que esta semana centrou as atenções foi a dos avanços legislativos do Parlamento Europeu contra a Google. Uma iniciativa que, registe-se, tem o apoio de grandes firmas alemãs e surge no contexto de leis com o mesmo objectivo aprovadas em vários parlamentos nacionais. Não é preciso voar para os Estados Unidos para encontrarmos textos muito críticos desses avanços legislativos. Talvez o mais importante seja o da The Economist, pois a revista dedicou a sua capa e primeiro editorial ao tema: Should digital monopolies be broken up? Um dos seus principais argumentos é o seguinte:
The lesson of recent decades is that technology monopolists (think of IBM in mainframes or Microsoft in PC operating systems) may be dominant for a while, but they are eventually toppled when they fail to move with the times, or when new technologies expand the market in unexpected ways, exposing them to new rivals. Facebook is eating into Google’s advertising revenue. Despite the success of Android, Google’s mobile platform, the rise of smartphones may undermine Google: users now spend more time on apps than on the web, and Google is gradually losing control of Android as other firms build their own mobile ecosystems on top of its open-source underpinnings. So far, no company has remained information technology’s top dog from one cycle to the next. 
 
Também a revista The Spetactor se ocupa da Google, seguindo em “Google vs governments - let the new battle for free speech begin”um argumento semelhante: “the broader truth will clearly be that these companies have thrived not primarily by hobbling the competition, but by diving into perhaps the fiercest and purest marketplace that there has ever been, and simply excelling at it.”
 
E mais algumas sugestões soltas:
  • O Telegraph editou um texto para ler e pensar, pois a situações portuguesa tem muitos paralelos com a inglesa. Trata-se de “If you're under 30, bad luck. You're screwed”. O seu ponto é simples e pertinente: “There's never been a worse time to be young and British, thanks to the selfishness of the baby boomers and the political indifference of today's twenty-somethings”.
  • O Wall Street Journal publicou duas reportagens bem interessantes, e muito bem apresentadas em formato digital.A Massacre in the Family - My Great-Great-Grandfather and an American Indian Tragedy conta-nos uma história de índios e cowboys com mais de 150 anos, reconstituindo as investigações do autor para compreender o papel de um antepassado no massacre de Sand Creek. A outra reportagem segue a odisseia de um grupo de refugiados sírios: A Syrian Exodus – Refugees Cross a Narrow Sea Passage With Europe on Horizon.
  • O Telegraph faz uma sugestão que talvez não possa ser seguida pelos telespectadores portugueses: Forget Game of Thrones: Meet England's bloodiest queens. Trata-se da referência a uma nova série histórica, Britain’s Bloodiest Dynasty, que estreou esta semana no Channel 5 e que nos mostra como a crueldade da Guerra dos Tronos acaba por empalidecer face à crueldade real de alguns reinos medievais.
  • No ABC madrileno há um curioso ensaio visual, La Guerra Civil se fusiona con Google Street View. Um artista pesquisou fotografias de Madrid do tempo da Guerra Civil e colocou-as em cima de imagens da Google. Isto porque “es muy sencillo olvidar la historia de las calles de Madrid que miles de personas recorren todos los días. Considera que este montaje da qué pensar, ya que mezcla la crudeza de la guerra con la pacífica actualidad.” O efeito é poderoso.
 
Agora uma curiosidade. É provável que muitos leitores do Macroscópio tenham visto o anúncio da Natal da criança e do pinguim mas não conheçam os armazéns londrinos John Lewis que esse anúncio promove. Ora sucede que uma cronista da Standpoint foi lá para almoçar e depois contou-nos, em An Oasis on Oxford Street, a história de como o “the food hall in the basement of John Lewis is a shrine to gourmet capitalism”. Ela por ela ficou-se por uma lasanha, mas a crónica é bem divertida.
 
Termino, como não podia deixar de ser, com uma sugestão do Observador. E de novo com a recomendação de que vejam mais uma edição de Conversas à Quinta, a minha conversa semanal com Jaime Gama e Jaime Nogueira Pinto. O tema de partida foi o "desastre de Naulila", uma derrota portuguesa às mãos de tropas alemãs no sul de Angola, faz agora 100 anos. A partir desse episódio falámos longamente sobre o que se passou durante a I Grande Mundial nos longínquos, e esquecidos, teatros de África.
 
E por hoje é tudo. Boas leituras, bom descanso, e bom fim-de-semana. 

 
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