terça-feira, 4 de novembro de 2014

Macroscópio - OBSERVADOR - 4 de Novembro de 2014

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MacObservador (newsletters@observador.pt)roscópio – O adeus de Durão Barroso. Uma condecoração e muitos balanços

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03-11-2014
 
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Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!

 

Durão Barroso terminou o seu segundo mandato como presidente da Comissão Europeia na passada sexta-feira. Hoje a comissão Juncker entrou em pleno em funções (no Observadorrelembrámos a sua equipa e antecipámos as suas prioridades). Nessa equipa, recorde-se, há um português, Carlos Moedas, visto como comissário “low profile”. Mas não só: ele é também “o primeiro aluno de Erasmus a chegar a comissário e o segundo elemento mais jovem na equipa de Juncker”.
 
Mas mais do que antecipar o trabalho da futura Comissão Europeia, o tempo é de balanço dos anos Barroso. Tempo oportuno, já que hoje foi condecorado pelo Presidente da República numa cerimónia onde se trocaram muitos elogios, o que é natural nestas ocasiões. O presidente cessante da Comissão era um homem emocionado, que fez um discurso emocionado, mas onde mesmo assim deixou mensagens claras: “Não se pode pedir à UE que resolva todos os problemas, que muitas vezes têm competência única dos Estados membros, e os governos não podem vangloriar-se quando corre bem e culpar Bruxelas quando corre mal”. 
 
Nos últimos dias Durão Barroso deu algumas entrevistas a órgãos de informação portugueses, porventura a mais interessante terá sido dada à SIC Noticías. Aí fez o seu balanço a dez anos em Bruxelas. Mas que balanço se fez em Portugal?
 
De uma forma geral, os balanços realizados por políticos dividiram-se por linhas partidárias. Na oposição até José Sócrates, o mesmo que um dia lhe bateu nas costas e desabafou “porreiro pá”, entendeu que agora é apenas tempo de remoques e de o acusar de por “em causa os fundamentos daquilo que é o projeto Europa”.
 
À esquerda a posição mais distanciada, porventura mais equilibrada, foi a de Francisco Assis:
Ao longo dos dois mandatos em que desempenhou as funções de Presidente da Comissão, Durão Barroso evidenciou linearmente as suas qualidades e os seus defeitos. Esteve bem em tempos dados aos compromissos institucionais, esteve mal nos momentos em que se lhe exigia uma atitude mais visionária e corajosa. Nos últimos anos compactuou excessivamente com a progressiva afirmação de uma liderança unipolar germânica (…). É certo que não era fácil a sua posição e é mesmo de admitir que qualquer outro no lugar dele tivesse agido de forma análoga. O que é facto é que foi sob a sua presidência que nestes tempos mais recentes se assistiu ao apagamento da Comissão no âmbito da complexa arquitectura institucional europeia. Talvez por isso tem sido objecto de ataques que me parecem excessivos na generalidade da imprensa internacional. O tempo colocará as coisas no seu devido lugar.
 
No mesmo jornal, o Público, um outro colunista, João Carlos Espada, preferiu uma abordagem mais afirmativa: “Parabéns, Durão Barroso”. O seu ponto de vista é que “o principal e notável mérito” do ex-presidente da Comissão “foi ter sabido manter o equilíbrio numa UE alargada e ter sabido preservar esse clube drasticamente alargado”. Mais: criticou aquilo que designou como “um dos mais intrigantes fenómenos da atmosfera política e cultural nacional é a indiferença, quando não a aberta hostilidade, da nossa opinião publicada relativamente à presidência da Comissão Europeia pelo cidadão português José Manuel Durão Barroso”.
 
Maria João Avillez, aqui no Observador, e Henrique Monteiro, no Expresso, também se distanciariam dessa onda de criticismo. Eis o ponto de Maria João Avillez:
Na partida do português Durão Barroso da Comissão Europeia, ao fim de uma década intensíssima, o facto de se tratar de um compatriota que se despedia não contou, nem pesou. Outros valores mais altos se levantavam: o que era preciso era dizer mal, só mal, muito mal. E, claro, ficar sentado, quando estrangeiros se levantavam para o aplauso de circunstância da despedida. Imperioso naquela hora era consumar, portuguesmente, ressentidamente, pequenas e médias vingançazinhas acumuladas. E grandes invejas, claro está. 
 
Quanto a Henrique Monteiro (link para assinantes), escreveu o seguinte no Expresso deste sábado:
Apesar de tudo, as ideias de Europa unida, de moeda única, de alargamento, de política mais ou menos comuns, que andaram todas em crise, aguentaram-se. Não sei quanto se deve a Barroso por isso, nem sei se é justo acusar Barroso como tanta gente faz, por se ter entregado nos braços de Merkel. O que sei é que a essência do que era a Europa manteve- se — é certo que abalada, mutilada, com menos fulgor, com mais desemprego, com menos dinheiro. Mas daí até culpar o presidente da Comissão vai uma distância relativamente grande. 
 
Paulo de Almeida Sande tentou, de novo no Observador, “O balanço possível”. Não se ficou pelos últimos anos, recuou até aos tempos do Tratado de Lisboa, citou alguns balanços críticos da imprensa internacional e acabou por reconhecer que, depois destes anos tempestuosos, teremos de aguardar pelo veredito da História. Para já fica seguinte impressão:
Sem a Comissão, sem a relação que muitos dizem tíbia com a Alemanha e a França (e que talvez fosse a possível), o pior cenário poderia ter-se confirmado. E quando Barroso ergueu a voz e falou alto em nome da Europa, muitos encolheram os ombros e desvalorizaram-no; aconteceu com França e a excepção cultural, com o Reino Unido e a imigração, até com a Alemanha ocasionalmente.
 
Saiamos agora de Portugal para deixar uma outra visão. Esta é a do espanhol El Pais, que assistiu à última conferência de imprensa como presidente da Comissão. O seu balanço tem, como se esperaria, claros e escuros:
Ha mantenido unido el club europeo en medio de la crisis más grave de su historia. Y ha ampliado la eurozona y la UE casi hasta los límites geográficos de Europa. Ha reforzado el mercado único, ha conseguido avances en la lucha contra el cambio climático y sacó adelante el Tratado de Lisboa (aunque quizá tiene más detractores que apoyos por eso último). Pero su mandato queda marcado a fuego por la crisis y deja más sombras que luces, con una gestión económica de la zona euro que [muitos] califican poco más o menos como desastrosa. Barroso se ha despedido en la sala de prensa de la Comisión Europea con un amago de autocrítica por la lentitud en la toma de decisiones, por el eurodesencanto creciente de los europeos y por el auge de los populismos. Pero sobre todo ha lanzado una crítica rotunda a los Gobiernos de los socios: “La UE es hoy más fuerte y está mejor preparada para la próxima crisis a pesar de los titubeos de algunas capitales”.
 
O tempo permitirá que a poeira assente, a distância ajudar-nos-á a fazer um melhor julgamento. Até lá, espero que estas leituras ajudem os leitores do Macroscópio a formarem a sua opinião. Pela sua cabeça, que é como deve ser.
 
Até amanhã. 
 
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ANTÓNIO FONSECA

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