terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Resgatado homem que afirma ter ficado mais de UM ANO à deriva no mar ??? - 4 de Fevereiro de 2014

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Resgatado homem que afirma ter ficado mais de UM ANO à deriva no mar

José Alvarenga naufrago 1 ano

A história de José Alvarenga é incrível: o pescador afirma ter ficado à deriva no mar aberto por mais de um ano.

Segundo o relato do homem de 37 anos, ele partiu com seu barco do México no dia 21 de Dezembro de 2012, junto ao adolescente de 15 anos Ezequiel, para uma viagem de um dia a fim de pegar tubarões. Alvarenga era pescador de tubarão e camarão no México há 15 anos. Ele também tem uma filha de 10 anos de idade, em El Salvador. No entanto, o motor em seu barco parou de funcionar, e ele e o garoto passaram alguns dias à deriva perto da terra. Logo, foram levados para longe no Oceano Pacífico e perceberam que precisavam se virar para sobreviver por conta própria.

Alvarenga contou que Ezequiel se recusou a comer e morreu depois de quatro meses. O pescador permaneceu obrigado a viajar por mar aberto, até alcançar a terra a cerca de 8.046 km de distância nas Ilhas Marshall, na Micronésia, em 30 de Janeiro deste ano.

Confuso, magro e ostentando uma barba espessa, o pescador alegou ter subsistido comendo peixes, aves, tubarões e tartarugas, todos capturados com as mãos. Além disso, tomou sangue de tartaruga e sua própria urina quando água da chuva não estava disponível, para se manter hidratado.

Parecendo desnorteado, ele desceu do barco de resgate sorrindo. “Eu tinha acabado de matar um pássaro para comer e vi algumas árvores”, disse o sobrevivente ao jornal britânico The Telegraph, em um hospital em Majuro, capital das Ilhas Marshall. “Eu chorei e disse ‘Oh Deus’. Eu cheguei a terra e estava com muito sono. Na parte da manhã eu acordei, ouvi um galo e vi galinhas e uma pequena casa. Eu vi duas mulheres nativas gritando. Eu não tinha nenhuma roupa – eu estava apenas de cueca e ela estava rasgada”.

José Alvarenga naufrago 1 ano

O pescador também relatou ter pensado em tirar a própria vida quatro dias após a morte de seu colega de bordo. “Durante quatro dias, eu queria me matar. Mas eu não conseguia fazê-lo”.

Perguntado sobre como foi o seu tempo no oceano, ele disse que nunca esteve entediado e raramente tinha medo, além de sempre rezar a Deus, embora não pertencesse a nenhuma religião específica. “Eu tive a minha mente em Deus”, disse. “Se eu fosse morrer, eu estaria com Deus”.

O chefe da imigração das Ilhas Marshall Damien Jacklick disse que as autoridades estão colectando informações para providenciar o repatriamento do pescador. “Com a ajuda do embaixador dos EUA, fomos capazes de obter informações sobre os membros de sua família em El Salvador e nos Estados Unidos”, contou. “Esperamos que esta informação nos ajude a rastrear sua família”.

Uma história incrível, mas verdadeira?

A história de Alvarenga parece um pouco fantasiosa. As autoridades ainda estão investigando o caso e alguns detalhes improváveis.

A questão que fica é: quão credível é a situação que Alvarenga relatou?

Segundo Claude Piantadosi, professor de medicina na Universidade Duke, em Durham, Carolina do Norte (EUA), a narrativa do pescador é plausível.

O autor de “The Biology of Human Survival: Life and Death in Extreme Environments” (em português, “A biologia da sobrevivência humana: a vida e a morte em ambientes extremos”) fala que as principais questões que alguém precisa enfrentar quando está à deriva em águas tropicais são a falta de uma fonte de água doce, a capacidade de se manter à tona (isto é, um barco ou jangada), abrigo do sol (uma lona, vela ou tela), alimentos e um dispositivo de sinalização. O fato de que o homem tinha um barco de 7,3 metros e uma lona foi uma grande ajuda para mantê-lo vivo.

José Alvarenga naufrago 1 ano 3

Em geral, cinco a seis semanas sem alimento é o limite humano. Aves marinhas, como gaivotas, pousam e fazem abrigo em barcos à deriva. “Se [Alvarenga] for esperto, pode ter ocasionalmente pego uma. Isto é mais plausível se ele foi capaz de pegar alguns peixes, o que atrai as aves”, explica Piantadosi.

Mas a captura de peixes com a mão não é tarefa fácil. “Eu tenho alguns problemas especificamente com esta parte da história. Mas ele tinha muito tempo livre, talvez por isso tenha conseguido. Tartarugas menores podem ser apanhadas com a mão. A disponibilidade de carne de tartaruga ou de ave frescas o teria impedido de contrair escorbuto”, argumenta o professor.

“Eu seriamente duvido que ele pudesse pegar grandes tartarugas ou pequenos tubarões com a mão, no entanto. Eles são simplesmente muito fortes. Em qualquer caso, se ele conseguiu pegar um pássaro ou tartaruga de tamanho decente uma vez por semana, poderia sobreviver. Mas teria perdido muito peso”, completa.

Água é um factor limitante crítico para a sobrevivência. Se Alvarenga foi bem sucedido em se manter longe do sol, pode ter sido capaz de sobreviver com um consumo médio de água de 1,5 a 2 litros por dia.

4 dias geralmente é o máximo que um adulto saudável pode viver em temperaturas moderadas sem água nenhuma. Pessoas que vivem mais de uma semana presas sob escombros após terremotos quase sempre têm algum acesso à água.

Na rota em questão que Alvarenga estava, teria tido chuva a cada poucos dias. O sangue de aves e tartarugas também é uma boa fonte de hidratação (composto de 70% de água) e não tem mais sal do que plasma humano. Já o sangue dos peixes de oceano é muito salgado e deve ser descartado. Mas a carne de tartarugas e aves também contém uma grande quantidade de água.

“Beber sua própria urina não é recomendado, porque você está ingerindo de novo sal que seus rins estão tentando eliminar”, diz Piantadosi.

Ele explica que, longe da costa, a maioria das tartarugas, aves e peixes são seguros para comer sem cozinhar. Toxinas marinhas na carne de peixes são relativamente raras, mas há excepções regionais e sazonais.

Em ambientes tropicais, os perigos maiores são, principalmente, o calor e a radiação. Eles podem levar a desidratação, queimaduras solares e na córnea. Na água, maceração da pele e vida marinha são ameaças extras.

Ainda, algumas reportagens afirmaram que Alvarenga se contradizia às vezes. Será que esse tempo à deriva pode ter causado problemas neurológicos no pescador?

“Sim, há problemas neurológicos que podem surgir de muitas coisas que ele experimentou, como desidratação e exposição ao sol. E certas deficiências de vitaminas, especialmente as do complexo B, como tiamina, niacina e B12, certamente podem afectar seu estado mental. Ele poderia ter ficado moderadamente deficiente destas vitaminas e ainda sobreviver por um bom tempo”, afirma o especialista.

E quanto tempo, em média, leva para uma pessoa se recuperar de algo assim? “O tempo de recuperação varia muito. A reidratação é bastante rápida – um ou dois dias. Desnutrição é mais difícil. Se ele estivesse com inanição, a prevenção da síndrome de realimentação é algo com que o médico precisaria se preocupar. Depois de fome prolongada, algumas pessoas não podem ser realimentadas por diversas razões. Às vezes, simplesmente perderam muita superfície de absorção no intestino delgado e não podem regenerá-la”, conta.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores das Ilhas Marshall disse que Alvarenga poderia ter alta do hospital ainda hoje ou amanhã. “Diferentemente de tornozelos inchados, sua condição geral é OK”, disse Anjane Kattil. “De acordo com os médicos, o seu sistema imunológico está fraco, mas não tão fraco quanto esperávamos”.

“Ele está em muito melhor forma do que seria de esperar depois de tal provação”, disse Tom Armbruster, o embaixador dos EUA nas Ilhas Marshall. [NatGeo, TheTelegraph, CNN, TheGuardian]

Autor: Natasha Romanzoti

tem 24 anos, é jornalista, apaixonada por esportes, livros de suspense, séries de todos os tipos e doces de todos os gostos.

Transcrito de HYPE SCIENCE

por

ANTÓNIO FONSECA

4-2-14

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