Vamos
por partes. Toda a gente que conhece a música dos OK Go conhece os
vídeos dos OK Go. A fama mundial da banda de 4 elementos deve-se aos
milhões de visualizações dos videoclipes que obtiveram nas redes
sociais. Por isso, não é de estranhar que o mais recente videoclip tenha
sido
anunciado diretamente no Youtube
(mas o resultado final ainda só pode ser visto no Facebook): “Yooooou
Tube, como estás? Tudo bem? Eu sou o Damian e vim só cá dizer que
acabámos de lançar o novo vídeo dos OK Go (...) Este é o vídeo mais
bonito e visualmente mais apelativo que alguma vez fizemos”, afirmou
Damian Kulash, vocalista da banda e realizador do extravagante projeto.
Além
do vídeo lançado no Facebook, foi publicada em paralelo uma nota de
intenções (e explicações) na página oficial da banda de rock: “The One
Moment” é uma celebração e uma oração para aqueles momentos na vida em
que nos sentimos mais vivos. Os seres humanos não estão preparados para
compreender a sua própria transitoriedade; será sempre profundamente
belo, profundamente confuso e profundamente triste que as nossas vidas e
o nosso mundo sejam tão fugazes. Temos apenas alguns momentos.
Felizmente, entre eles há alguns que realmente importam e é nossa
obrigação encontrá-los”. Depois, numa clara alegoria à eleição de Donald
Trump, acrescentam em parêntesis: “Quando escrevemos a música não
sabíamos que estaríamos num momento tão crítico para a nossa nação e
para o mundo. É um daqueles momentos em que tudo muda, quer gostemos ou
não, e por isso a música sente-se particularmente relevante”.
Os
OK Go assumem de seguida que através dos seus vídeos sempre tiveram a
preocupação de inovar e surpreender, mas aqui foram mais longe:
“Tentámos representar esta ideia literalmente — tudo foi feito num único
momento. Construímos um momento de confusão e caos total e depois
revelamos o momento, descobrindo a beleza e a maravilha da estrutura por
dentro”.
E como é que tudo foi feito?, pergunta o leitor. Pois…
já lá vamos. A banda usou vários disparadores digitais muito precisos
para fazer acontecer uma série de coisas em apenas 4 segundos. Os
gatilhos estavam sincronizados com braços robóticos de alta velocidade,
que puxaram as camaras ao longo do caminho programado. Aparentemente
temos a sensação de ver tudo a partir de um só ângulo, mas na verdade
foram usadas sete câmaras diferentes para capturar todos os momentos da
sequência.
O vídeo começa por nos mostrar os 4.2 segundos em
tempo real e depois a banda recorre a um slow motion que dura três
minutos e pouco. Quando chegamos ao fim do “momento desacelerado”,
Damian, o vocalista, pega num guarda-chuva e anda em tempo real cerca de
16 segundos. Logo depois voltam a desacelerar o vídeo, num momento que
dura quase um minuto mas que em tempo real demorou pouco mais de três
segundos a ser gravado. E depois acaba. Quantas coisas acabámos de ver?
Trezentos e dezoito eventos diferentes - 54 explosões coloridas atrás de
Tim (o primeiro a aparecer), 23 explosões de baldes de tinta, depois
128 explosões de balões dourados e por aí fora.
A banda de rock
assume a complexidade do projeto: “A coreografia para este vídeo foi uma
grande teia de números. Foi calculado o tempo exato de cada evento a
partir de um grande número de dados que relacionava os eventos uns aos
outros à escala de tempo em que eles tinham de ser disparados”. A folha
de cálculo tinha mais de 25 colunas e cerca de 400 linhas. Depois de
todas estas explicações, está cansado? Então veja o vídeo outra vez.
PS:
Sim, eles rebentaram mesmo com cerca de 20 guitarras, mas, segundo os
mentores do projeto, eram guitarras com defeitos, sem outro uso
possível. Recuperando as palavras dos OK Go, será sempre profundamente
belo, profundamente confuso e profundamente triste que as nossas vidas e
o nosso mundo sejam tão fugazes. Mas felizmente estamos no século XXI e
temos a tecnologia de ponta a transportar as ideias humanas para
patamares nunca antes alcançados.