segunda-feira, 2 de março de 2015

OBSERVADOR - MACROSCÓPIO - 2 DE MARÇO DE 2015

Macroscópio – Poderá mesmo ocorrer de novo uma grande guerra?‏

Macroscópio – Poderá mesmo ocorrer de novo uma grande guerra?

 
 
18:58
 
 Grupos
Para: antoniofonseca40@sapo.pt



Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!

 
Vasco Pulido Valente nunca foi conhecido pelo seu optimismo. Pelo contrário. Mas o seu texto da passada sexta-feira é especialmente sombrio e pode ser assim sintetizado: “Os movimentos preliminares da III Guerra Mundial estão em curso: para o Ocidente ver – ou não ver”.
 
O historiador escrevia, naturalmente, sobre a Rússia de Putin, a qual “embarcou numa política claramente agressiva e revanchista.” Desenvolveu assim o seu argumento:
A Crimeia foi o primeiro objectivo, como já o fora para Catarina, porque o Império fica fechado ao exterior sem um porto de água quente; e o segundo foi parte da bacia do Donetsk, porque a Crimeia não serve de nada sem uma ligação fácil e segura ao coração do Império. Estaline e Hitler perceberam este ponto essencial. Putin também; e não há a sombra de uma dúvida de que não recuará. Como, tarde ou cedo, vai acabar por querer que as repúblicas bálticas voltem ao seu domínio e que a Ásia Central aceite obedientemente a sua ordem. 
 
Estas palavras foram escritas e publicadas antes do assassinato de Boris Nemtsov, o líder mais carismático da oposição democrática a Vladimir Putin. O mesmo não sucedeu com o texto que Bernard-Henri Levy publicou no Huffington Post, onde, além de definir Nemtsov como o protótipo do "anti-Putin", estabelece um perturbante paralelo com um outro assassinato ocorrido nas vésperas da I Guerra Mundial, o de Jean Jaurès. Escreve o filósofo francês em Boris Nemtsov: Alive in Death:
Nemtsov's murder resembles that of Jean Jaurès in the sense that history recalls less clearly the direct perpetrator than the ill wind that made the murder possible, a wind that, in Jaurès's France, had been blowing for years through the far right, nationalistic, and anti-Dreyfus press. Let us hope that the parallels end there. Let us hope that Boris Nemtsov's death will never come to have the retrospective meaning of the demise of the last advocate of internationalism before the catastrophe of 1914.
 
Talvez este paralelo possa parecer exagerado a muitos, mas há mais vozes a sublinhar as características muito perigosas do ambiente político que hoje se vive em Moscovo. No país de Putin não precisa ser o Kremlin a ordenar a eliminação dos seus adversários, pois a propaganda e o condicionamento da opinião pública criou legiões de fanáticos que não hesitam em tomar eles mesmos a iniciativa. Masha Gessen, uma jornalista que nasceu em Moscovo e vive hoje em Nova Iorque, chama-lhes Russia’s Army of Avengers:
In all likelihood no one in the Kremlin actually ordered the killing — and this is part of the reason Mr. Nemtsov’s murder marks the beginning of yet another new and frightening period in Russian history. The Kremlin has recently created a loose army of avengers who believe they are acting in the country’s best interests, without receiving any explicit instructions. Despite his lack of political clout, Mr. Nemtsov was a logical first target for this menacing force.
 
José Milhazes, colaborador do Observador e o melhor especialista português em temas russos, conhecia pessoalmente Nemtsov e, vivendo neste momento em Moscovo, está especialmente bem colocado para perceber a evolução do clima político. Também para ele, num texto escrito logo a seguir ao assassinato, “Receio que Putin me assassine”, notava que, “Do ponto de vista político, Putin não precisa deste tipo de acções para neutralizar a oposição ou para elevar a sua popularidade, mas sem dúvida que tem fortes responsabilidades morais pela situação de histeria bélica que se vive no país, pelo ódio diariamente dirigido pela propaganda oficial contra os opositores”.
 
Depois de testemunhar a impressionante manifestação silenciosa que, domingo, acompanhou o cortejo fúnebre, José Milhazes, em“Não nos podem fuzilar a todos”, chamou a atenção para que, mesmo sendo notável a dimensão desse protesto, isso não significa que seja grande o apoio à oposição, pois esta continua minoritária. Só que…
Para Vladimir Putin, até essa minoria é um pesadelo. O dirigente russo olha para a oposição russa e vê a multidão na Praça da Independência em Kiev que derrubou Victor Ianukovitch e, por isso, autoriza a realização de campanhas para a denegrir. É muito provável que Boris Nemtsov tenha sido vítima da campanha contra os “traidores”, a “quinta coluna do imperialismo norte-americano”, “agentes dos nazis ucranianos”, etc.
 
A ideia de que para Putin mesmo uma minoria é um pesadelo é confirmada numa análise publicada no Financial Times, How the Kremlin benefits from Boris Nemtsov’s death, Sergei Guriev, que já foi reitor da Nova Escola Económica de Moscovo, explicava como a personalidade e o passado de Nemtsov faziam dele uma ameaça especial para o regime:
Due to his past electoral success, his party was also the only truly anti-regime group that was to be legally allowed to take part in the 2016 parliamentary elections. Nemtsov’s participation in the elections would naturally have become a platform for bringing together diverse anti-Putin and pro-western opposition forces. The murder of Nemtsov has helped to solve this potential problem for the Kremlin.
 
Boris Nemtsov era, de facto, um político talentoso e corajoso. Nos dias que antecederam a sua morte deu entrevistas a pelo menos dois órgãos de imprensa internacionais – a edição polaca daNewsweek e o Financial Times – que vale a pena ler (o Observador fez aqui uma síntese da entrevista à Newsweek) e ainda à à rádio russa Ekho Mosvyat (Horas antes de ser morto, Nemtsov criticou as “políticas loucas” de Putin, escreveu-se também no Observador). Algumas passagens que vale a pena recordar:
“Agora tudo é conhecido. No início, Putin mentiu, disse que não havia tropas [na Crimeia]. Depois disse que havia. Hoje, publiquei um vídeo do cerco ao edifício – apenas um vídeo – do Conselho Supremo da Crimeia, antes dos deputados chegarem e a começarem o chamado referendo de voto livre. O vídeo mostra como as forças especiais [dos serviços secretos russos] entraram. É impossível esconder isto…”, 
Rádio Ekho Mosvyat, citada pela Observador
Russia quickly turns into a fascist state. We already have the propaganda modeled after Nazi Germany. We also have a nucleus of assault brigades, such as the SA. What else would you call this Anti-Maidan thing, this pseudo-civic initiative, which two weeks ago gathered to torpedo the anniversary of the revolution on the Maidan? Tens of thousands of mercenaries, thugs and all kinds of suspicious individuals were brought to Moscow. They tried to intimidate us. (…) As in Hitler’s Germany. And that’s just the beginning.
Newsweek
Putin is very dangerous. He is more dangerous than the Soviets were. In the Soviet Union, there was at least a system, and decisions were taken in the politburo. Decisions about war, decisions to kill people, were not taken by Brezhnev alone, or by Andropov either, but that’s how it works now. (…)
The people around Putin are rich and weak. There has been a selection. There is not a single bold person left who can influence him. They’ve all left to somewhere. Including [former finance minister Alexei] Kudrin, the boldest of all. So they can’t influence him, they can only adapt.
Financial Times
 
Termino este Macroscópio quase como o comecei, com uma nota de grande pessimismo. Só que agora o pessimismo de quem combateu e combate o regime de Putin, o antigo campeão de xadrez Garry Kasparov que, num artigo no Wall Street Journal –Putin’s Culture of Fear and Death – dificilmente poderia ser mais sombrio:
We cannot know exactly what horror will come next, only that there will be another and another while President Putin remains in power. The only way his rule will end is if the Russian people and the elites understand that they have no future as long as he is there. Right now, no matter how they really feel about Mr. Putin and their lives, they see him as invincible and unmovable. They see him getting his way in Ukraine, taking territory and waging war. They see him talking tough and making deals with Angela Merkel and François Hollande. They see his enemies dead in the streets of Moscow.
 
Será esta realidade – a deriva autoritária de um político perigoso que lidera uma potência nuclear – suficiente para causar um tal desequilíbrio e desestabilização que leve mesmo a uma nova guerra de grandes proporções? Ou será que a impressionante mobilização silenciosa de 70 mil moscovitas que venceram o medo e a inércia para prestarem uma última homenagem a Boris Nemtsov é o sinal de que algo pode acabar por mudar? A reflexão, tal como estas leituras, ficam com os seguidores do Macroscópio.
 
Bom descanso. 
 
Mais pessoas vão gostar da Macroscópio. Partilhe:
no Facebook no Twitter por e-mail
Leia as últimas
em observador.pt
Observador

======================

ANTÓNIO FONSECA

OBSERVADOR - HORA DE FECHO - 2 DE MARÇO DE 2015

Hora de Fecho: PM: "Não tinha consciência" que precisava pagar‏

Hora de Fecho: PM: "Não tinha consciência" que precisava pagar

 
 
17:04
 
 Grupos
Para: antoniofonseca40@sapo.pt
 


Hora de fecho

As principais notícias do dia
Boa tarde!
SEGURANÇA SOCIAL 
Passos Coelho garante que não fez descontos para a Segurança Social entre 1999 e 2004 apenas porque "não tinha consciência que essa obrigação era devida durante esse período".
PASSOS COELHO 
Vice-presidente do Instituto da Segurança Social fala em erro básico na notificação por carta simples de 107 mil trabalhadores independentes que não permitiu cobrar dívida. Passos Coelho era um deles
PASSOS COELHO 
PSD parte em defesa do primeiro-ministro no caso da dívida à segurança social. Culpa, diz, foi do sistema da segurança social que, em 2007, não notificava os contribuintes em dívida.
PASSOS COELHO 
A porta-voz do BE exigiu explicações ao país por parte de um "primeiro-ministro caloteiro para com a Segurança Social" ainda antes do próximo debate quinzenal, agendado para 11 de março.
PASSOS COELHO 
Ex-diretor do Instituto da Segurança Social do governo Sócrates acusa primeiro-ministro de continuada evasão contributiva. Ao DN, Edmundo Martinho diz que Passos não pode alegar que desconhecia a lei.
RIQUEZA 
De acordo com o ranking "The World's Billionaires" publicado esta segunda-feira pela revista norte-americana Forbes, Bill Gates continua na liderança da lista dos mais ricos do mundo.
FUTURO DA GRÉCIA 
Está decidido. Acordo de extensão concluído na terça-feira irá ser debatido no parlamento de Atenas, mas não irá haver lugar a votação. Cresce a oposição a Alexis Tsipras dentro do partido Syriza.
FUTURO DA GRÉCIA 
Ministro espanhol Luis de Guindos confirma que arrancaram as negociações para um terceiro pacote financeiro para a Grécia. O valor ficará entre 30 e 50 mil milhões de euros, adianta o responsável.
FUTURO DA GRÉCIA 
O governo alemão afirmou que Alexis Tsipras cometeu "uma falha" ao ter acusado Portugal e Espanha de quererem conduzir a Grécia a uma asfixia financeira durante as negociações em Bruxelas.
FUTURO DA GRÉCIA 
Jeroen Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo, contou, em entrevista à Financial Times, pormenores sobre as negociações com a Grécia em Bruxelas e como teve de afastar Varoufakis das conversações. 
Opinião

Alexandre Homem Cristo
100 dias depois, entre as linhas vermelhas de socialismos europeus e do Syriza, António Costa está como Hollande: num beco sem saída 

Gabriel Mithá Ribeiro
Não há filmes, romances, ensaios, simples artigos de jornal fora dos lugares-comuns sobre o Estado Novo que a saliva corrosiva da elite bem-pensante, a polícia do espírito, não tente matar à nascença.

José Manuel Fernandes
Costa tem, como diz o povo, "feito de mula", evitando falar e comprometer-se. É compreensível. Não sabe o que a Europa lhe vai permitir prometer, nem sabe que sarilhos ainda criarão os mitos do Syriza

José Milhazes
Foi a maior acção silenciosa e fúnebre que a oposição a Vladimir Putin realizou na história moderna da Rússia. É uma oposição que é hoje minoritária, mas para o Kremlin até essa minoria é um pesadelo.

João Marques de Almeida
Desconfio que no início do Verão haverá na Grécia eleições antecipadas ou Tsipras convocará um referendo sobre o “terceiro programa” como a última tentativa para salvar o seu governo.
Mais pessoas vão gostar da Hora de fecho. Partilhe:
no Facebook no Twitter por e-mail
Leia as últimas
em observador.pt
Observador
======================

ANTÓNIO FONSECA

PÁGINA 1 - RR - 2 DE MARÇO DE 2015

Página1 de 02-03-2015‏

Etiquetas

DIA MUNDIAL DO SORRISO - 28 DE ABRIL DE 2024

  Sorriso 25 línguas Artigo Discussão Ler Editar Ver histórico Ferramentas Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.   Nota:  Para outros sig...

Arquivo do blogue

Seguidores

Pesquisar neste blogue