domingo, 20 de março de 2022

DIA INTERNACIONAL DA FELICIDADE - 20 DE MARÇO DE 2022

 

Felicidade

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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Felicidade pode ser definida por um momento em que há a percepção de um conjunto de sentimentos prazerosos. A felicidade é um estado durável de plenitude, satisfação e equilíbrio físico e psíquico, em que o sofrimento e a inquietude são transformados em emoções ou sentimentos que vão desde o contentamento até a alegria intensa ou júbilo. A felicidade tem, ainda, o significado de bem-estar espiritual ou paz interior. Existem diferentes abordagens ao estudo da felicidade - pela filosofia, pelas religiões ou pela psicologia. O ser humano sempre procurou a felicidade. Filósofos e religiosos sempre se dedicaram a definir sua natureza e que tipo de comportamento ou estilo de vida levaria à felicidade plena.

A felicidade é o que os antigos gregos chamavam de eudaimonia, um termo ainda usado em ética. Para as emoções associadas à felicidade, os filósofos preferem utilizar a palavra prazer. É difícil definir, rigorosamente, a felicidade e sua medida. Investigadores em psicologia desenvolveram diferentes métodos e instrumentos, a exemplo do Questionário da Felicidade de Oxford,[1] para medir o nível de felicidade de um indivíduo. Esses métodos levam em conta fatores físicos e psicológicos, tais como envolvimento religioso ou político, estado civil, paternidade, idade, renda etc.

Evolução histórica das reflexões sobre a felicidade

Zoroastro, profeta iraniano que teria nascido entre os séculos XVII e XIV a.C., criou uma doutrina religiosa, o zoroastrismo, que se baseava numa luta permanente entre o bem e o mal. Quando Zoroastro perguntou, à divindade do bem, Aúra-Masda, sobre o que seria felicidade na terra, a resposta teria sido: "Um lugar ao abrigo do fogo e dos animais ferozes; mulher; filhos; e rebanhos de gado".[2]

Por volta do século 6 a.C., na China, dois filósofos apontaram dois caminhos para se atingir a felicidade: Lao Tsé defendeu que a harmonia na vida podia ser alcançada através da união com o tao, ou seja, com as forças da natureza.[3] Já Confúcio enfatizou o dever, a cortesia, a sabedoria e a generosidade como elementos que permitiriam uma existência feliz.[4]

dalai lama Tenzin Gyatso defende a autorreflexão e a serenidade como caminhos para se atingir a felicidade

A felicidade é um tema central do budismo, doutrina religiosa criada na Índia por Sidarta Gautama por volta do século VI a.C. Para o budismo, a felicidade é a liberação do sofrimento, liberação esta obtida através do Nobre Caminho Óctuplo. Segundo o ensinamento budista, a suprema felicidade só é obtida pela superação do desejo em todas as suas formas. Um dos grandes mestres contemporâneos do budismo, o dalai lama Tenzin Gyatso, diz que a felicidade é uma questão primordialmente mental, no sentido de ser necessário, primeiramente, se identificar os fatores que causam a nossa infelicidade e os fatores que causam a nossa felicidade. Uma vez identificados esses fatores, bastaria extinguir os primeiros e estimular os segundos, para se atingir a felicidade.[5] O dalai lama ainda enfatiza a importância da disposição mental para se atingir a felicidade: sem uma disposição mental adequada, de nada adianta a posse de fatores externos, como riqueza, amigos etc. E a disposição mental adequada para a felicidade baseia-se sobretudo na serenidade.[6]

Mahavira, um filósofo indiano contemporâneo de Sidarta Gautama, enfatizou a importância da não violência como meio de se atingir a felicidade plena. Sua doutrina perdurou sob o nome de jainismo.[7]

Para o filósofo grego Aristóteles, que viveu no século IV a.C., a felicidade é uma atividade de acordo com o que há de melhor no homem. O homem, diferente de todos os outros seres vivos, é dotado de linguagem (logos), e a atividade que há de melhor no homem deve ser realizada de acordo com a virtude, então, aquele que organizar os seus desejos de acordo com um princípio racional terá uma ação virtuosa e a vida de acordo com a virtude será considerada uma vida feliz. Assim, a felicidade, para o filósofo grego, é uma atividade da alma de acordo com um princípio racional, isto é, uma atividade de acordo com a virtude. Por isso, ela está ligada à ideia de satisfação. Com isso, vemos que a concepção aristotélica de felicidade diverge em muito da concepção contemporânea, por exemplo, que considera a felicidade como a paz de espírito ou um estado durável de emoções positivas. Para Aristóteles, um homem feliz é um homem virtuoso. Nesse sentido, muitas vezes se sugere que o termo eudaimonia não seja traduzido, destacando a diferença do que concebemos atualmente como felicidade. A palavra eudaimonia é composta por "eu" ('bom') e "daimōn" ("espírito"). Trata-se de um dos conceitos centrais na ética e na filosofia política de Aristóteles.[8]

Epicuro, filósofo grego que viveu nos séculos IV e III a.C., defendia que a melhor maneira de alcançar a felicidade é através da satisfação dos desejos de uma forma equilibrada, que não perturbe a tranquilidade do indivíduo.[9]

Pirro de Élis, filósofo grego contemporâneo de Epicuro, também advogava que a felicidade residia na tranquilidade, porém divergia quanto à forma de se alcançar a tranquilidade. Segundo Pirro, a tranquilidade viria do reconhecimento da impossibilidade de se fazer um julgamento válido sobre a realidade do mundo. Tal reconhecimento livraria a mente das inquietações e geraria tranquilidade. Este tipo de pensamento é, historicamente, relacionado à escola filosófica do ceticismo.[10]

Outra escola filosófica grega da época, o estoicismo, também defendia a tranquilidade (ataraxia) como o meio de se alcançar a felicidade. Segundo essa escola, a tranquilidade poderia ser atingida através do autocontrole e da aceitação do destino.[11]

Para Aristóteles, a felicidade pode ser atingida pela prática do bem

Jesus Cristo defendeu o amor como o elemento fundamental para se atingir a harmonia em todos os níveis, inclusive no nível da felicidade individual. Sua doutrina ficou conhecida como cristianismo.

Maomé, no século VII, na Península Arábica, enfatizou a caridade e a esperança numa vida após a morte como elementos fundamentais para uma felicidade duradoura, eterna.[12]

O cristianismo, após a morte de Jesus, aprimorou-se institucionalmente e dividiu-se em vários ramos. Um deles, o catolicismo, produziu muitos filósofos famosos, como Tomás de Aquino, que, no século XIII, descreveu a felicidade como sendo a visão beatífica, a visão da essência de Deus.

O filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau defendeu que o ser humano era, originalmente, feliz, mas que o advento da civilização havia destruído esse estado original de harmonia. Para se recuperar a felicidade original, a educação do ser humano deveria objetivar o retorno deste à sua simplicidade original.[13]

Na Inglaterra dos séculos XVIII e XIX, os filósofos Jeremy Bentham e John Stuart Mill criaram o utilitarismo, doutrina que dizia que a felicidade era o que movia os seres humanos. Segundo o utilitarismo, os governos nacionais têm, como função básica, maximizar a felicidade coletiva e bem estar.[14]

positivismo do filósofo francês Auguste Comte (1798-1857) enfatizou a ciência e a razão como elementos que deveriam nortear o ser humano na busca da felicidade. Esta felicidade seria baseada no altruísmo e na solidariedade entre todo o gênero humano, formando a chamada "religião da humanidade".

O filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) defendeu o estabelecimento de uma sociedade igualitária, sem classes, como elemento fundamental para se atingir a felicidade humana.

O psiquiatra Sigmund Freud (1856-1939), o criador da psicanálise, defendia que todo ser humano é movido pela busca da felicidade, através do que ele denominou princípio do prazer. Porém essa busca seria fadada ao fracasso, devido à impossibilidade de o mundo real satisfazer a todos os nossos desejos. A isto, deu o nome de "princípio da realidade". Segundo Freud, o máximo a que poderíamos aspirar seria uma felicidade parcial.

psicologia positiva - que dá maior ênfase ao estudo da sanidade mental e não às patologias - relaciona a felicidade com emoções e atividades positivas.[15] Segundo essa percepção, o homem estaria responsável pela própria felicidade, sem depender dos outros ou de um deus. Assim, o indivíduo deve se condicionar psicologicamente, a partir de atitudes como ser positivo, ser grato, fazer o bem. Dessa forma, o ato de fingir ser feliz seria uma maneira de se condicionar a estar feliz.[16]

economia do bem-estar defende que o nível público de felicidade deve ser usado como suplemento dos indicadores económicos mais tradicionais, como o produto interno bruto, a inflação etc.

Estudos científicos iniciados em 1970 por David T. Lykken, geneticista e professor de Psicologia da Universidade de Minnesota, indicam que a felicidade também depende de fatores hereditários. O autor e outros pesquisadores afirmam que, quanto ao bem-estar subjetivo, dependemos em parte da “grande loteria genética que ocorre no momento da concepção” – daí resultaria o fato de as pessoas serem predominantemente otimistas ou pessimistas.[17] Outros estudos científicos recentes têm procurado achar padrões de comportamento e pensamento nas pessoas que se consideram felizes. Alguns padrões encontrados são:

  • capacidade de adaptação a novas situações
  • buscar objetivos de acordo com suas características pessoais
  • riqueza em relacionamentos humanos
  • possuir uma forte identidade étnica
  • ausência de problemas
  • ser competente naquilo que se faz
  • enfrentar problemas com a ajuda de outras pessoas
  • receber apoio de pais, parentes e amigos
  • ser agradável e gentil no relacionamento com outras pessoas
  • não superdimensionar suas falhas e defeitos
  • gostar daquilo que se possui
  • ser autoconfiante
  • pertencer a um grupo[18]
  • independência pessoal

Hoje, o conceito de felicidade está intimamente atrelado ao "culto do indivíduo". Ser feliz é o resultado de um "projeto de produção da felicidade", segundo Joel Birman.[19] Essa percepção confere maior autonomia ao indivíduo e relaciona felicidade à qualidade de vida e à autoestima. Por isso, a depressão se torna o maior sofrimento na modernidade: ser infeliz é o "fracasso performático do sujeito", define Birman.[19]

Veja também

Referências

  1.  «The Oxford Happiness Questionnaire». Consultado em 19 de maio de 2011. Arquivado do original em 22 de junho de 2011
  2.  CARVALHO, S. S. Os mestres da terra: os místicos e líderes religiosos da humanidade. São Paulo. Hemus. pp. 57-60.
  3.  WILKINSON, P. O livro ilustrado das religiões: o fascinante universo das crenças e doutrinas que acompanham o homem através dos tempos. Tradução de Margarida e Flávio Quintiliano. São Paulo. Publifolha. 2001. p. 70.
  4.  WILKINSON, P. O livro ilustrado das religiões: o fascinante universo das crenças e doutrinas que acompanham o homem através dos tempos. Tradução de Margarida e Flávio Quintiliano. São Paulo. Publifolha. 2001. p. 68.
  5.  CUTLER, H. C. e LAMA, D. A Arte da Felicidade. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 14,15
  6.  CUTLER, H. C. e LAMA, D. A Arte da Felicidade. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 26-28.
  7.  WILKINSON, P. O Livro Ilustrado das Religiões. São Paulo: Publifolha, 2001. pp. 45-46
  8.  Ética Nicomaquéia, Livro 1, capítulo 7
  9.  MARCONDES, D. Iniciação à História da Filosofia - dos Pré-socráticos a Wittgenstein. 13ª edição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010. p. 93
  10.  MARCONDES, D. Iniciação à História da Filosofia - dos Pré-socráticos a Wittgenstein. 13ª edição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010. pp. 95,97,98
  11.  MARCONDES, D. Iniciação à História da Filosofia - dos Pré-socráticos a Wittgenstein. 13ª edição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010. p. 92
  12.  Abdullah, Luiz Carlos Da Silva-Hajj Hamzah (17 de março de 2010). «ISLAM.COM: REFLEXÕES SOBRE A FELICIDADE»ISLAM.COM. Consultado em 21 de março de 2021
  13.  NICOLA, U. Antologia ilustrada de filosofia: das origens à idade moderna. Tradução de Maria Margherita de Luca. São Paulo. Globo. 2005. p. 303.
  14.  «Jeremy Bentham»educacao.uol.com.br. Consultado em 21 de março de 2021
  15.  Freitas-Magalhães, A. (2006). A psicologia do sorriso humano. Porto: Edições Universidade Fernando Pessoa. ISBN 972-8830-59-9 - ISBN 978-989-643-035-1 (2ª Ed., 2009).
  16.  Freire Filho, João. "A felicidade na era de sua reprodutibilidade científica: construindo “pessoas cronicamente felizes”." Ser feliz hoje: reflexões sobre o imperativo da felicidade. Rio de Janeiro: FGV (2010): 49-82.
  17.  Jacir J. Venturi (30 de julho de 2015). «Ontem feliz, hoje estou triste». Jornal Gazeta do Povo. Consultado em 5 de agosto de 2015
  18.  NIVEN, D. 100 segredos das pessoas felizes. 14ª edição. Rio de Janeiro: Sextante, 2001. 189p
  19. ↑ Ir para:a b Birman, Joel. "Muitas felicidades?! O imperativo de ser feliz na contemporaneidade." Ser feliz hoje: reflexões sobre o imperativo da felicidade. Rio de Janeiro: Editora FGV (2010): 27-48.

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SÃO MARTINHO - 20 DE MARÇO DE 2022

 

Martinho de Tours

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São Martinho de Tours
São Martinho no Mosteiro de Tibães
O Apóstolo da Gália e Bispo de Tours
NascimentoSabáriaPanônia PrimaPanônia 
316
MorteCondateArmóricaGália Lugdunense 
8 de novembro de 397 (81 anos)
Festa litúrgica11 de Novembro
AtribuiçõesMitra, báculo e mendigo
Gloriole.svg Portal dos Santos

Martinho de Tours (em latimMartinus TuronensisSabáriaPanónia316 – CondateGália8 de novembro de 397), foi um militarmonge e, mais tarde, bispo da Cidade dos Turões (atual Tours), sendo considerado santo pela Igreja Católica.[1]

É considerado o Padroeiro do Sporting Clube de Portugal, juntamente com Brígida da Irlanda, pela sua forte ligação com o país e a simbologia da colheita farta no final do ano (principalmente no tocante a vinhos).

Contexto Histórico

Viveu no século IV, época de importantes transformações. Martinho de Tours teve um importante papel nessas mesmas transformações ao ter sido, primeiro, um convertido à religião cristã e, depois, um dos impulsionadores de uma maior cristianização da Europa, cujo processo avançou significativamente no século IV. Ainda em termos de contexto histórico, nasceu três anos após o Edito de Milão promulgado pelo imperador Constantino (r. 306–337) no ano de 313, que havia concedido aos cristãos liberdade de culto.

Foi discípulo de Santo Hilário de Poitiers (um dos doutores da Igreja), que se notabilizou na Teologia, e também foi contemporâneo de outro importante doutor da Igreja - Agostinho de Hipona (354–430). Embora Martinho fosse um homem culto, foi na ação prática (caridade, ensino, fundação e construção de igrejas, de mosteiros e de escolas) que se distinguiu e notabilizou.

A sua ação missionária e pedagógica, a par da de outros, foi muito importante na cristianização da Gália (é mesmo apelidado de apóstolo da Gália ou “Pai das Gálias”), mas também numa área geográfica e cultural mais vasta, tendo esta se repercutido em outras províncias ocidentais do Império Romano. A sua ação educativa, caritativa e religiosa revelar-se-ia fundamental a longo prazo ao ter contribuído para deixar um legado cultural e religioso que perdurou para além da queda do Império Romano do Ocidente (no ano de 476) e que faz parte da formação da própria civilização cristã europeia. Foi um dos fundadores do monaquismo na Europa Ocidental. Devido à sua vida exemplar, ainda em vida foi reverenciado.

Biografia

Infância

Martinho (Martinus em latim) era filho de um Tribuno, comandante e soldado do exército romano. Nasceu e cresceu na cidade de Sabária/Savária (atual Szombathely), localizada na antiga província da Panónia, atual área da Hungria a oeste do rio Danúbio, em 316, uma província nas fronteiras do Império Romano. A família na qual nasceu não era cristã, a educação da sua família foi feita na religião dos seus antepassados: a da religião politeísta romana antiga (que tinha crença em deuses mitológicos venerados no Império Romano).[2]

Por curiosidade começou a frequentar uma igreja cristã, ainda criança, sendo instruído na doutrina cristã, porém sem receber o batismo. Aos 10 anos de idade (no ano de 326) entrou para o grupo dos catecúmenos (aqueles que estão se preparando para receber o batismo). Assim, despertou para a fé cristã quando ainda menino.[2][3]

Membro do exército romano

Ao atingir a adolescência, aos 15 anos de idade (em 331), para tê-lo mais à sua volta, seu pai o alistou na cavalaria do exército imperial contra a própria vontade. Mas se o intuito do pai era afastá-lo da Igreja, o resultado foi inverso, pois Martinho, continuava praticando os ensinamentos cristãos, principalmente a caridade.[2][3]

Depois, prestou serviço na Gália, atual França; no entanto, mesmo como soldado da cavalaria do exército romano, jamais abandonou os ensinamentos de Cristo.[3]

Foi nessa época que ocorreu o famoso episódio do manto, que poderá ter ocorrido no ano de 337, próximo da cidade de Samarobriva/Ambiano (atual Amiens, capital da Picardia). Um dia um mendigo que tiritava de frio pediu-lhe esmola e, como não tinha, o cavalariano cortou seu próprio manto com a espada, dando metade ao pedinte. Contam os relatos escritos que, durante a noite, o próprio Jesus lhe apareceu em sonho, usando o pedaço de manta que dera ao mendigo e agradeceu a Martinho por tê-lo aquecido no frio. Dessa noite em diante, decidiu que deixaria as fileiras militares para dedicar-se à religião.[2][3]

Batismo

Com quarenta anos foi batizado (no ano de 356), provavelmente por Hilário de Poitiers, bispo da cidade de Pictavium (Pictávio, atual Poitiers), mas também é possível que o tenha sido pelo bispo de Samarobriva ou Ambiano (atual Amiens), cidade perto da qual ocorreu o célebre repartir do manto a um mendigo.[4]

Monge e Professor

Afastou-se da vida da corte e do exército, tornou-se monge, tendo permanecido na Gália.

No ano de 354, aos 38 anos de idade, chega a Pictavium (Pictávio, a atual Poitiers), para se tornar discípulo do seu famoso bispo - Santo Hilário, que o ordenou diácono. Nesse mesmo ano, parte em viagem de regresso à Panónia, para a sua cidade natal de Sabária, com o objectivo de se encontrar com a sua família e tentar converter vários dos seus conterrâneos à religião cristã através da pregação e da evangelização. Entre os novos convertidos que fez contaram-se a sua mãe, mas não o seu pai, que permaneceu na religião politeísta.[5]

No ano seguinte (355), no entanto, é expulso da Panónia por questões relacionadas com a perseguição movida pelos partidários do arianismo, pois Martinho era um firme defensor do cristianismo católico ou catolicismo.[6]

Durante 5 anos permaneceu isolado, vivendo como monge, numa ilha do Mar Tirreno, na Ilha de Galinária, ao largo da costa de Itália.

Em 361, aos 45 anos de idade, Martinho regressou à Gália, no mesmo ano em que Santo Hilário voltou do exílio e regressou à cidade de Pictávio. Tendo sabido esta informação, Martinho viaja para essa cidade. Ambos contactam diretamente e Santo Hilário doou a Martinho um terreno em Ligugé, a doze quilômetros de Pictávio. Lá, Martinho fundou uma comunidade de monges. Mas logo eram tantos jovens religiosos que buscavam sua orientação, que construiu o primeiro mosteiro da França e da Europa ocidental.[2]

Missionário e evangelizador

No ocidente, ao contrário do oriente, os monges podiam exercer o sacerdócio para que se tornassem apóstolos na evangelização. Martinho liderou então a conversão de muitos habitantes da região rural. Com seus monges ele visitava as aldeias pagãs, pregava o evangelho, derrubava templos e ídolos e construía igrejas. Onde encontrava resistência fundava um mosteiro com os monges evangelizando pelo exemplo da caridade cristã, logo todo o povo se convertia.[2]

Dizem os escritos (como os de Sulpício Severo) que, nesta época, havia recebido dons místicos, operando muitos prodígios em beneficio dos pobres e doentes que tanto amparava. Sua vida foi uma luta contra o paganismo e em favor do cristianismo.[2]

Bispo

Quando a diocese de Cesaroduno, também conhecida por Cidade dos Turões (atual Tours), na Gália (atual França), ficou vaga, no ano de 371, tinha Martinho 55 anos, o povo o aclamou por unanimidade para ser o bispo, no entanto, pessoalmente preferiria recusar o cargo.[2]

Martinho aceitou, apesar de resistir no início. Mas não abandonou sua peregrinação apostólica, visitava todas as paróquias, zelava pelo culto e não desistiu de converter pagãos (ou politeístas) e exercer exemplarmente a caridade. Nas proximidades da cidade fundou outro mosteiro, denominado Marmoutier. E sua influência não se limitou a Tours, mas se expandiu por toda a Gália (atual França) e para além desta em outras províncias do Império Romano, tornando-o querido e amado por todo o povo.[2]

Martinho exerceu o bispado por vinte e cinco anos. Já idoso, aos oitenta e um anos de idade, Martinho, bispo de Tours, ainda afirmava: Senhor, se o vosso povo precisa de mim, não vou fugir do trabalho. Seja feita a vossa vontade. Estava na cidade de Condate (atual Candes de Saint Martin, na região de Centre-Val de Loire), perto de Tours, quando morreu no dia 8 de novembro de 397, aos oitenta e um anos de idade.[2]

Três dias após a sua morte, em 11 de novembro, foi sepultado em Cesaroduno, dia que lhe passou a ser dedicado mais tarde em sua memória.

Relatos Biográficos

A vida de São Martinho é sobretudo conhecida devido aos escritos de Sulpício Severo (c.360-c.420), que foi seu discípulo e amigo, e de Gregório de Tours (538-594), que também foi bispo de Tours mas duzentos anos mais tarde.

Sulpício Severo escreveu a obra Vida de São Martinho (Vita Martini, em latim) que é o relato da sua vida que melhor informação nos dá mais próxima da época em que ele viveu, embora Sulpício lhe tenha acrescentado diversas lendas e prodígios. Esta obra teve grande divulgação pelas províncias do Império Romano e, mais tarde, tornou-se uma das mais famosas biografias de santos (hagiografia) da época medieval europeia, tendo esta contribuído ainda mais para o conhecimento e fama acerca de São Martinho.[7]

Culto

Importância

Venerado como São Martinho de Tours, tornou-se o primeiro Santo não mártir a receber culto oficial da Igreja e tornou-se um dos Santos mais populares da Europa medieval.

Quatro mil igrejas são dedicadas a ele na França, e o seu nome dado a milhares de localidades, povoados e vilas; como em toda a Europa, nas Américas, enfim, em muitos países do mundo.

É em Tours, na França, que está o seu santuário e basílica que parte das suas relíquias dentro do braço erguido de uma enorme estátua, que o representa a abençoar.

Discorrendo sobre ele, o Papa Bento XVI disse: O gesto caritativo de São Martinho se insere na lógica que levou a Jesus a multiplicar os pães para as multidões famintas, mas sobretudo a dar-se a si mesmo como alimento para a humanidade na Eucaristia. (...) Com esta lógica de compartilhar se expressa de modo autêntico o amor ao próximo. (Alocução do Ângelus, de 11 de novembro de 2007).

Santo Padroeiro

São Martinho é padroeiro de diversas profissões (antigas e modernas) que são as seguintes: curtidores, alfaiates, peleteiros, soldados, cavaleiros, restauradores (hotéis, pensões, restaurantes), produtores de vinho.[8]

Também é o padroeiro dos mendigos.

Festa de São Martinho

Ver artigo principal: Dia de São Martinho

Sua festa é comemorada no dia 11 de Novembro, data em que foi sepultado na cidade de Tours.

Há diversas tradições festivas associadas a esta data e que se relacionam com um espírito de convívio e de solidariedade.

Algumas dessas tradições são:

- Comer a chamada oca de São Martinho (um ganso);

- Beber do vinho novo (guardado após as vindimas), chamado vinho de São Martinho;

- Acender de fogos de festa: os fogos de São Martinho;

- Fazem-se Magustos, festas populares cujas formas de celebração consistem em se formarem grupos de amigos e de famílias que assam e comem castanhas.

Também associados à festa de São Martinho há dois ditos:

No dia de São Martinho bebe o vinho e deixa a água correr para o moinho;

No São Martinho vai à adega e prova o vinho.[9]

Curiosidades

Instituiu a primeira escola e transformou o local, que hoje é a cidade de Tours.

Sobre o túmulo de S. Martinho, por estar agoniado pela perspectiva da batalha de Tolbiac contra a temível horda dos alamanos (ano 496), o rei Clóvis prometeu converter-se ao “Deus de Clotilde”, sua mulher católica, se obtivesse a vitória. Como venceu miraculosamente foi baptizado junto com os seus soldados no Dia de Natal do mesmo ano.

A família real francesa recebeu o nome de “Capeto” por ter recebido, há mais de um milénio, um pedaço da sua célebre capa como relíquia e pela circunstancia histórica explicada acima que fez nascer a primeira nação cristã da Europa.

Em resultado da Revolução Francesa demoliu-se a sua basílica, que já tinha sido restaurada devido a circunstâncias idênticas pelos protestantes, mas que desta vez os "revolucionários" fizeram passar uma rua por cima do túmulo, a fim de garantir que ele fosse esquecido definitivamente. Apenas no século XIX um aristocrata francês, conhecido como “o santo homem de Tours”, promoveu pela França uma cruzada para sua reparação, conseguindo-o.

Ver também

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Referências

  1.  QUINSON, Marie-Therese (1999). Dicionário cultural do cristianismo. Loyola. p. 193. ISBN 978-85-15-01330-2.
  2. ↑ Ir para:a b c d e f g h i j «Cópia arquivada» (PDF). Consultado em 13 de novembro de 2013. Arquivado do original (PDF) em 13 de novembro de 2013
  3. ↑ Ir para:a b c d «Santo do dia»Católica net.
  4.  «Cópia arquivada» (PDF). Consultado em 13 de novembro de 2013. Arquivado do original (PDF) em 13 de novembro de 2013
  5.  «Cópia arquivada» (PDF). Consultado em 13 de novembro de 2013. Arquivado do original (PDF) em 13 de novembro de 2013
  6.  «Cópia arquivada» (PDF). Consultado em 13 de novembro de 2013. Arquivado do original (PDF) em 13 de novembro de 2013
  7.  «Cópia arquivada» (PDF). Consultado em 13 de novembro de 2013. Arquivado do original (PDF) em 13 de novembro de 2013
  8.  «Cópia arquivada» (PDF). Consultado em 13 de novembro de 2013. Arquivado do original (PDF) em 13 de novembro de 2013
  9.  «Cópia arquivada» (PDF). Consultado em 13 de novembro de 2013. Arquivado do original (PDF) em 13 de novembro de 2013

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