domingo, 6 de maio de 2018

NÃO É POR ACASO ...

Não é por acaso que o Sporting não ganhou qualquer jogo na Liga ao Porto, Benfica e Braga - é por causa disto (a análise tática ao dérbi)

Quase 24 horas depois, ainda há muitas explicações por dar relativamente à estratégia e às táticas de cada um dos treinadores no Sporting-Benfica (0-0) que resultou no título para o Porto. Este texto oferece algumas

TIAGO TEIXEIRA, ANALISTA DE FUTEBOL E CRIADOR DO BLOGUE DOMÍNIO TÁTICO
 
CARLOS RODRIGUES
No último derby da época houve mais Benfica do que Sporting, principalmente durante a primeira parte, onde a equipa de Rui Vitória foi muito superior ofensivamente. Foi um Benfica com mais qualidade a ligar o seu processo ofensivo em ataque posicional porque o fez de maneira apoiada através de combinações curtas, ao contrário do Sporting que procurou sempre um futebol menos elaborado.
As dificuldades do Sporting em ataque posicional não são nenhuma novidade, mas nos jogos contra equipas cuja a organização defensiva é mais competente do que o habitual o Sporting é praticamente inexistente nesse momento do jogo.
Foi um Benfica posicionado num bloco muito compacto, com a linha defensiva alta e sempre com Fejsa a oferecer cobertura defensiva aos dois médios interiores (Samaris e Zivkovic), não permitindo muito espaço para que Bruno Fernandes pudesse receber a bola entre linhas.
No sábado, bem como em vários jogos contra equipas com esta competência no posicionamento defensivo, o que se viu foi um Sporting sempre com pouco critério a sair desde trás, preferindo muitas vezes um passe longo pelo ar do que uma circulação apoiada. Um Sporting sempre à espera de um rasgo individual de Gelson ou Bruno Fernandes para conseguir progredir em campo. Um Sporting sem qualquer criatividade ofensiva a nível coletivo (tudo demasiado previsível), e incapaz de chegar à área do Benfica de forma apoiada para garantir melhores condições para finalizar.
Não é por acaso que o Sporting não ganhou qualquer jogo para o campeonato ao Porto, Benfica e Braga, e não sendo apenas pelas dificuldades em criar situações de golo em ataque posicional, obviamente que isto teve uma grande influência.
A já referida capacidade do Benfica em construir e criar de forma apoiada, e não querendo retirar nenhum mérito à maneira como o fizeram, teve muito demérito do Sporting em organização defensiva. Em muitos momentos do jogo as distâncias entre as linhas defensivas e mesmo entre os elementos da mesma linha foram enormes, e isso permitiu aos jogadores do Benfica progredir de forma curta e apoiada e chegar várias vezes ao espaço entre a linha defensiva e a linha média do Sporting.
Repare-se no lance que se segue a quantidade de espaço existente entre a linha defensiva do Sporting e os dois médios, William e Battaglia. Em nenhum momento do lance conseguiram posicionar-se entre a bola e a baliza de Rui Patrício de modo a dar cobertura defensiva a
Gelson e proteger o espaço à frente de Coates e Mathieu. Bastou uma simples tabela entre Grimaldo e Jimenez e o Benfica chegou ao espaço de criação, apenas com a linha defensiva do Sporting pela frente.
Já sem William em campo, o Sporting continuava a permitir demasiado espaço entre a sua linha defensiva e a linha média. Neste lance que se segue, muito bem os jogadores do Benfica a combinar no corredor lateral de modo a fazer a bola chegar ao espaço entre os defesas e os médios do Sporting; mas repare-se na distância de Battaglia para a zona da bola, que nunca ofereceu cobertura defensiva a Coentrão e Acuña - e nunca protegeu o espaço à frente de Coates e Mathieu.
O Sporting voltou a ser inferior taticamente num jogo entre grandes, não conseguindo criar praticamente nenhuma situação de golo (a excepção foi o lance de Dost a terminar a primeira parte). Além disso, como já tinha acontecido noutros jogos contra Benfica e Porto, a equipa de Jorge Jesus voltou a conceder muitas oportunidades de golo e bem pode agradecer a Rui Patrício e aos dois centrais (Coates e Mathieu fizeram um grande jogo) não ter saído derrotado no último dérbi da época.
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ERA O "PENTA" FICA O "T E N T A " ...!!! - 6 DE MAIO DE 2018


"Era o penta, fica o tenta" - a noite em que a festa voltou a desembarcar nos Aliados

Esta é a reportagem da madrugada do título, feita no meio do caos e da festa. Há amor, cerveja, "borracheira", promessas de uma ressaca certa, e jogadores vitoriados

ANDRÉ MANUEL CORREIA


O relógio marca as 22h. O aparato de segurança na estação da Trindade é notório, este sábado, como sempre acontece nos dias de festa na Invicta. A cidade aguarda e prepara-se para uma conquista antecipada. O trânsito está cortado em várias artérias do coração da baixa portuense, mas os preparativos para os festejos já estão em marcha. Ali bem perto, na Rua do Bonjardim, um grupo de aproximadamente duas dezenas de pessoas assiste, na calçada, ao derby de Lisboa entre Sporting e Benfica. Estão vestidas a rigor, com camisolas e cachecóis do FC Porto, enquanto os olhos estão fixados no ecrã colocado no exterior da Confeitaria Sissi. Todos torcem por um empate, resultado que permitirá aos adeptos azuis e brancos celebrar o título. Falta pouco para terminar a partida e nenhum dos dois rivais desfaz a igualdade no marcador. Tudo lhes corre de feição, mas o tempo passa lento. “Por favor acaba assim, por favor acaba assim e vai ser noite de borracheira até ao fim”, entoa, em êxtase, aquele grupo de apoiantes dos dragões. As cervejas numa das mãos simbolizam o prelúdio de uma celebração, enquanto o cigarro na outra é o indício de algum nervosismo.
A indignação e a ansiedade acentuam-se quando o árbitro Carlos Xistra dá sete minutos de compensação. “Sete minutos é contra nós”, afirma Célio Soares, um dos mais apreensivos e expectantes. “Isto agora até ao final é um tirinho”, acalma-o Ricardo Ferraz, de 31 anos, um dos mais animados. “É quando estás a precisar de marcar, mas quando é para segurar o resultado parece que nunca mais acaba”, responde o amigo. O coração bate rápido, ao ritmo dos tambores, que acompanham melodias improvisadas. “Chora o Vitória, chora o Vieira e o penta ciao, o penta ciao, o penta ciao ciao ciao”, vão cantando, depois de uma série de quatro temporadas protagonizadas pela hegemonia encarnada.
“Olha a hora”, grita alguém. “Tira! Tira! Limpa a bola daí, c...”, afligem-se, sempre que uma das equipas se aproxima com mais perigo da grande área adversária. “Eish ó mano, que troçada”, exclamam quando Bruno Fernandes faz uma entrada mais violenta sobre Franco Cervi. Instala-se um misto de emoções, culminada com uma explosão de euforia quando ouvem o apito final do jogo. “Campeões”, gritam, entre abraços apertados e um banho de cerveja, enquanto garrafas são estilhaçadas na rua. Começa a construir-se uma noite de farra, com muitos brindes e sem contas à moda do Porto na hora de pagar mais uma “jola” a um “comparsa”.

A REVOLUÇÃO AZUL E BRANCA NOS ALIADOS

Os olhos de Célio Soares estão marejados. “É uma revolta interior exteriorizada na forma de lágrimas”. Tem 42 anos e já assistiu a vários conquistas do FC Porto. Acompanha a equipa para todo o lado e, em 2004, estava no Estádio Internacional de Yokohama quando Jorge Costa ergueu o troféu da Taça Intercontinental (atual Mundial de Clubes).
“A festa ia ficar para amanhã, porque vamos todos ao estádio, mas o que sabe bem é ser campeão. Foi hoje e estamos muito felizes. Tivemos de remar contra a maré e finalmente conseguimos”, assevera Ricardo Ferraz ao Expresso, pronto para se juntar à onda de celebração azul, com um cravo vermelho colocado ao peito. Está em curso a revolução dos adeptos portistas que vão desembarcando nos Aliados aos milhares. A confraternização é a senha, mas ninguém pretende aceder à caixa de correio eletrónico. “Hoje não vou enviar e-mails para os meus amigos benfiquistas. Mas dir-lhes-ia que para o ano há mais, mas este é nosso”.
A avenida é o epicentro do primeiro dia das comemorações, que prometem prolongar-se, garantem os adeptos, até segunda-feira. “O campeão voltou, o campeão voltou, o campeão voltou”, é o grito de ordem que se propaga. Se para muitos portistas esta é já uma tradição, para outros é uma experiência inédita, como é o caso dos pequenos Afonso e Guilherme Santos, dois irmãos gêmeos de seis anos. Estão acompanhados pelos pais e envergam camisolas do FCP. “Hoje a festa vai demorar só um bocadinho, é mais para mostrar aos meus filhos como é viver tudo isto”, explica Pedro, pai do “Copy” e do “Paste”. Mais habituado a estas andanças está António Esperança. Tem 65 anos, já vivenciou várias noites como esta e acredita que as “toupeiras” foram a “praga” para que o Dragão não saísse à rua em festa nos últimos anos, até que Sérgio Conceição “trouxe o antídoto”.
“Olha o chapéu do Porto, olha o chapéu do Porto”, apregoa um vendedor aos adeptos que passam, a pé, cobertos por um manto de alegria. Circular de automóvel é quase impossível e ouvem-se buzinões. Não são sinónimo de impaciência, mas de um entusiasmo com via verde para se prolongar até de manhã. “Vai ser festa até o sol nascer”, garante o jovem de 17 anos Diogo Alves, envergando uma bandeira do Mali onde está escrito o nome do avançado Marega, atleta que os adeptos defendem ser um dos estandartes para a obtenção do título.

AS FESTAS QUE SE CASAM

A Avenida dos Aliados está pintada de azul e branco e, no meio da multidão, encontramos Armanda Silva, num momento de “muita alegria, muita alegria, há muitos anos que não a sentia”. É portista dos pés à… quase à cabeça, vá. “Só o cabelo é que é vermelho, mai nada”, frisa prontamente a adepta de 52 anos.
Outras celebrações casam também com a festa. Atingida pela flecha do Cupido, Flávia Freitas caminha alegremente pelas ruas, coberta por um véu e agarrada a um boneco insuflável chamado Zé. É a despedida de solteira desta jovem de 26 anos, rodeada por amigas enfeitadas com coroas de flores nos cabelos. A alguns metros de distância, um grupo de mulheres madeirenses, com cachecóis do Nacional, estão extasiadas com a subida do clube à Primeira Liga. “Somos um clube que faz história por só termos estado um ano na segunda divisão, tal como aconteceu no passado com o Vitória de Guimarães. Estamos de regresso ao lugar que merecemos”, afirma Rita Grilo, também simpatizante do Porto e para quem “um dois em um sabe sempre bem”.
Hélder Martins e Patrícia nem tencionavam sair de casa, mas a filha de 16 anos arrastou-os para a festa. “Nós já estávamos deitados no sofá. Éramos os típicos campeões de sofá”, conta a mãe de Ariana, “tola pelo Porto”. A agitar uma enorme bandeira dos Super Dragões está Rita Freitas. Ainda está “toda a tremer”, mas continua incansável nos festejos. “É incrível conseguir aquilo que conseguimos, mesmo sem a ajuda dos árbitros. Nem tenho a noção real do que está a acontecer”, confessa a jovem de 19 anos, a quem uma amiga pergunta: “ui, já dás entrevistas para o Expresso?”
Para Vítor Barros “foram quatro anos de sofrimento concluídos com a conquista de um campeonato muito merecido”. Amanhã não vai estar no estádio. “Provavelmente estarei de ressaca”, diz, entre risos, o adepto de 55 anos, com força para erguer o filho de 11 anos aos ombros e festejar até que a voz lhe doa. O pai destaca a “solidez” de Marcano ao longo do campeonato. “E o Brahiiiiimi”, acrescenta o pequeno Pedro. Enquanto isso, as inevitáveis farpas para o eterno rival manifestam-se nas tarjas e fazem-se ouvir, em uníssono, pela moldura humana que lotou a habitual “sala de festas” do FCP. “Era o penta, ficou o tenta”. E pela Avenida dos Aliados ficou uma grande massa humana até às 2h da manhã, quando muitos dos adeptos começaram a dispersar. Este domingo há mais. Antes, durante e após o jogo com o Feirense.

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Futebol

Em direto: Ambiente de festa no Dragão antecipa jogo com o Feirense

 
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06 Maio 2018 às 16:39

O HOMEM QUE DERROTU O MUNDO


SÉRGIO CONCEIÇÃO -  


O homem que derrotou o mundo

9/26
Tribuna
Agora que é campeão e que pode discutir a continuidade nos seus próprios termos, é tempo de recuperar e refletir sobre o que se disse e se escreveu a propósito deste treinador
Fomos todos particularmente preconceituosos nos adjetivos que pusemos a Sérgio Conceição quando se tornou evidente de que seria ele, e não Marco Silva, o sucessor de Nuno Espírito Santo no Porto.
Não foi por mal.
Na realidade, foi sempre assim.
Na bola costumamos irremediavelmente praticar aquilo que na lógica se chama generalização precipitada, ou seja, concluir rapidamente que fulano é assim e assado, porque fez precisamente isto e aquilo e mais um par de botas.
No caso de Sérgio, ainda assim, havia algumas atenuantes para as análises estouvadas que se escreveram, incluindo as minhas - o homem tem, de facto, o sangue quente e há vários episódios efervescentes que o provam. Como qualquer corporativista devidamente doutrinado, irei generalizar uma vez mais sobre o que se disse a partir daquela quinta-feira, 8 de junho de 2017, dia da oficialização.
Tribuna: O homem que derrotou o mundo© LOIC VENANCE O homem que derrotou o mundo
A saber:
Sérgio era difícil de aturar e chateara-se com os presidentes da Olhanense, da Académica, do Guimarães e do Brago, e isso era muito.
Sérgio tinha jogado pelas melhores equipas e nos melhores estádios e havia inclusivamente um estádio com o nome dele em Coimbra, o que não era para todos - ah, e marcara três golos à Alemanha no Euro2000, o que é para ainda menos.
Depois, Sérgio era portista; bom, Sérgio fez-se portista, porque nasceu numa família pobre e numa vizinhança e numa aldeia profundamente sportinguistas, mas isso passou-lhe quando assinou pelo FC Porto pela primeira vez, em 1996. No dia seguinte a tornar-se oficiosamente portista, o pai morreu num acidente de moto, na moto em que costumava levá-lo aos treinos quando era puto - pouco depois, faleceu a mãe e a orfandade enrobusteceu-lhe o caráter e a rebeldia. Nesse momento, falou-se então, Sérgio ganhou o direito a dizer que tudo o que conquistou, foi à conta dele. O que era verdade.
Mas também era verdade que Sérgio, por ter mau feitio, mau perder, garra, por se chatear por dá cá aquela palha e por ser rebelde, não aguentava muito tempo no mesmo sítio.
Ora, o Porto, sem dinheiro e sem títulos há não sei quantos anos, estava mesmo a pedi-las quando foi contratar um tipo destes, só carisma e pouco mais, ainda por cima sabendo ele que não era a primeira opção do seu presidente favorito.
Só que no meio deste chorrilho de certezas irresistíveis, esquecemo-nos de alguns pormenores, a começar por este: Sérgio Paulo Marceneiro Conceição. Três nomes bíblicos e uma profissão amigada à do pai de Cristo não são um acaso, mas um sinal.
Pois então, Sérgio, como um carpinteiro de habilidades sobrenaturais, pegou em meros toros de madeira que já ninguém queria, ou que queriam à força, e transformou-os em obras de arte tosca, sim, mas irresistivelmente eficaz. E, então, apareceram Marega a marcar golos em série como se fosse um ponta de lança prodigioso - que não é -, Danilo a subir no terreno feito médio de condução - que também não é - e Brahimi a defender as costas de Telles em jeito de sacrifício - que não fazia, antes de Sérgio aparecer na vida dele.
Chegámos todos à conclusão de que Sérgio Conceição era um mestre motivacional, ainda que por estas bandas já cá houvesse um de semelhantes características. E quando ele errou, também todos lhe anunciámos prematuramente o fim. Aconteceu quando o Porto perdeu contra o Besiktas ou contra o Paços de Ferreira ou contra o Liverpool, e, sobretudo, quando o caso-Casillas se tornou tema de conversa, servindo de paradigma para o treinador dito conflituoso e über rigoroso.
Na altura, Conceição não quis abrir exceções e arriscou o pescoço, pois o espanhol era (e é) factualmente o jogador com maior currículo que alguma vez pisara um pedacinho de relva em Portugal; mais importante do que isso, Casillas era bem melhor do que José Sá.
Mas Sérgio lá provou que estávamos todos errados, demonstrando-nos que era muito mais do que um xamã da estirpe macho lusitano. Vimos isso na forma como mexeu na equipa nos jogos contra os grandes para a Liga e na forma como mexeu com todas as conferências de imprensa em que participou.
Agora que se sagrou campeão, discute-se a sua continuidade no Porto. Não porque alguém o ponha em causa, mas porque ele é um rebelde de causas. Tendo ganho esta, poderá escolher outra, nos seus próprios termos. Também conquistou esse direito.

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