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sábado, 16 de maio de 2015

OBSERVADOR - MACROSCÓPIO - 14 DE MAIO DE 2015

Macroscópio – Sócrates, “The Neverending Story”‏

Macroscópio – Sócrates, “The Neverending Story”

Para: antoniofonseca40@sapo.pt

Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!
 
 
Não, não vou falar do romance de Michael Ende "Uma História Interminável". Mas mesmo assim vou falar de um livro: “Cercado – Os dias fatais de José Sócrates”. Porque este, de alguma forma, vem acrescentar novos c apítulos a uma história que, tal com a fantasia do escritor alemão, não parece conhecer fim. Lançado hoje ao fim da tarde em Lisboa, a obra de Fernando Esteves, editor de Política da revista Sábado, vem dar a conhecer muitos detalhes e revelar pequenos segredos que não só ajudam a compor melhor o retrato do actual preso nº 44, como dão conta da forma como lidava com colaboradores e jornalistas.
 
A Sábado, naturalmente, divulgou os extractos mais longos do livro, em pré-publicação, mas não os disponibilizou on-line. Aí, em Novo livro faz revelações explosivas sobre José Sócrates, revelam-se apenas alguns pormenores. Por exemplo, que “A 21 de Novembro de 2014, dia em que foi detido no aeroporto de Lisboa, José Sócrates enviou, a partir de Paris, onde se encontrava antes de viajar para Portugal, um e-mail desesperado a oferecer-se para colaborar com a justiça portuguesa na operação Marquês, em que o ex-primeiro-ministro é suspeito dos crimes de fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção. A comunicação foi dirigida ao director do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), Amadeu Guerra.” Ou ainda que “Na segunda-feira, 24 de Março de 2014, Sócrates telefonou ao jornalista da RTP José Rodrigues dos Santos. Na noite anterior, no seu programa de comentário na estação pública, tinha sido submetido a um interrogatório por parte do jornalista de que não estava à espera. Quis transmitir-lhe a sua revolta. Resposta do jornalista:  "Olhe, vou-lhe dizer o que as pessoas que o senhor conhece disseram sobre a entrevista: o Zé Rodrigues dos Santos é um cabrão, fez isto e fez aquilo, e tu aguentaste-te muito bem, tiveste calma e deste grandes respostas. Tu é que ficaste a ganhar. Disseram-lhe ou não lhe disseram isso? (…) O senhor acha-me com cara de ter tempo a perder para ouvir políticos a aldrabarem as pessoas e a venderem a banha da cobra?"
 
O Observador teve acesso a um dos capítulos (que transcreveu em formato de pré-publicação), aquele em que, como escrevemos em título, se conta como A queda de Sócrates começou aqui: As escutas do curso mal explicado. É um processo de que já quase tudo tinha sido contado – e que conheci por dentro, pois dirigia o Público quando a investigação sobre o curso da Independente saiu pela primeira vez nesse jornal –, mas a que no livro se acrescentam alguns pormenores importantes, sobretudo os revelados por escutas que, entretanto, deixaram de estar em segredo de Justiça. Trata-se de conversas entre José Sócrates e o Reitor de Universidade Independente, Luís Arouca, onde ambos combinam o que deveria ser entregue de documentação ao jornalista que estava a fazer perguntas incómodas, Ricardo Dias Felner. Lendo as transcrições há passagens relativamente surpreendentes – ficamos com a percepção de que o então primeiro-ministro não se lembrava sequer de quantas cadeiras tinha feito na Independente... – e consegue perceber-se como não conseguiu controlar o processo, pois a Universidade acabaria por entregar ao jornalista fotocópias de tudo, e seria com base nessa documentação que o jornal construiria o seu caso. Pequena passagem, depois da transcrição de uma dessas escutas comprometedoras:
A chamada termina e Sócrates não quer acreditar que a ingenuidade do reitor seja inversamente proporcional à dimensão de um micróbio. Como foi possível fornecer as fotocópias do processo a Felner?! Agora é oficial: o ouro está nas mãos do bandido.
 
Já o Expresso, cujo director, Ricardo Costa, foi quem hoje apresentou o livro do Hotel do Chiado em Lisboa, preferiu seleccionar episódios mais recentes, já relacionadas com a “Operação Marquês”. Em Sócrates chegava a pedir 20 mil euros com um dia de intervalo, conta-se pela primeira vez, com detalhes e sempre com base no livro de Fernando Esteves e dos documentos por ele consultados, o circuito das 40 entregas de dinheiro feitas por Carlos Santos Silva a José Sócrates só no período que durou a investigação. Por exemplo: “O ritmo de pedidos foi sempre elevado. A 27 de setembro de 2013, Santos Silva entregou 10 mil euros a Sócrates ao final do tarde, depois de mais um telefonema em que o antigo líder do PS dizia ao amigo que “precisava de levar alguma coisa” porque tinha esgotado o plafond do cartão de crédito e Sofia Fava, a ex-mulher e mãe dos seus filhos, ia nesse dia ainda para Paris, necessitando de dinheiro. Mas sete dias antes já tinham sido outros 10 mil euros. E quatro dias antes disso outros cinco mil.”
 
Outra publicação com acesso a excertos de “Cercado” foi o jornal i. Neste caso o que se relata é A multiplicação de fúrias no arranque da última campanha. Não só ficamos a saber que, para aguentar os últimos comícios, José Sócrates teve de tomar injecções, como nessa  altura já tinha percebido que o destino seria uma pesada derrota eleitoral. Eis alguns dos episódios recordados: “Também houve outra tensão forte, logo no debate com Passos Coelho, que Sócrates perdeu, “Nunca o tinha visto assim, Há um momento em que parecia desistir (...) acho que ele sempre acreditou que a eleição estava p erdida”, comenta um ex-membro do seu staff.”; ou “Ou a fúria final com a jornalista, da Renascença – “que [em privado] qualifica[ria] com termos nada católicos” – que, na declaração de derrota, lhe perguntou se temia que a partir dali acelerassem os processos judiciais que o envolviam.”; ou ainda o acesso que Fernando Esteves teve ao “diário profissional de Judite de Sousa [disponibilizado pela própria], escrito em 2009, onde a jornalista fala mesmo em tentativa de condicionamento antes da entrevista onde Sócrates se referiu ao Jornal de Sexta da TVI [então apresentado por Manuel Moura Guedes] como ‘jornal travestido’”.
 
Pelo Público, em O livro que mostra S ócrates sem maquilhagem,ficamos a saber que “Sempre que o ex-primeiro-ministro José Sócrates participava num evento público onde era expectável a presença de câmaras de televisão, o antigo governante nunca descurava a sua imagem. Por isso, além de recorrer nos eventos mais decisivos a maquilhadoras profissionais, como Cristina Gomes, Sócrates tinha um estojo próprio de maquilhagem, com pinturas e base, que aplicava em si antes de chegar aos eventos.”
 
Contudo, se com este livro que agora vai chegar às livrarias vamos poder conhecer os bastidores de alguns dos casos mais controversos e, também, um retrato mais pormenorizado da forma como Sócrates trabalhava e se relacionava com os seus colaboradores, a verdade é que, nesta “neverending story”, parece continuar a haver muito por esgravatar. Hoje, por exemplo, também soubemos que é possível uma fuga de informação que venha a revelar partes das escutas que não estão no processo “Operação Marquês”. A informação foi divulgada pela Sábado e, na síntese feita no Observador, notava-se que tal a fuga de informação “deverá visar especificamente conversas crispadas onde o ex-primeiro-ministro tem um tom crítico sobre algumas pessoas do mundo político incluindo de dentro do próprio PS, nomeadamente sobre os últimos dois líderes socialistas, Antó nio José Seguro e António Costa.” É um tema que está a preocupar a Procuradoria Geral da República, sendo que o DCIAP já abriu um inquérito.
 
Mas chega de José Sócrates por hoje. O que não significa que o Macroscópio fique já por aqui, pois quero deixar-vos mais sugestões que prolongam o tema de ontem, o das opções e do futuro da esquerda democrática na Europa. São apenas mais três textos, todos publicados hoje:
  • João Miguel Tavares, no Público, em O partido flutuante, considera que António Costa, “perante um eleitorado que não flutua ou flutua pouco, é o seu partido que está obrigado a flutuar. Outra coisa, ali&aacu te;s, não tem ele feito nos últimos tempos, o que lhe vai valendo críticas à direita quando se põe a prometer o regresso dos feriados e das 35 horas de trabalho, e críticas à esquerda quando aparece de braço dado com Mário Centeno e as suas propostas de austeridade levemente mitigada.”
  • Francisco Assis, no mesmo Público, em O erro de Ed Miliband, escreve que “Na hora da verdade, o projecto trabalhista soçobrou por um problema de credibilidade. Claro que o futuro não passará por um regresso acrítico ao blairismo e aguarda-se com expectativa a discussão que antecederá a escolha de um novo líder. Agora uma coisa ficou clara – o centro-esquerda só está em condiç ;ões de ganhar eleições se associar credibilidade económica com um forte compromisso com a justiça social.”
  • Carlo Accetti and Francesco Ronchi, ambos do Instituto de Ciências Políticas de Paris, escrevendo no Wall Street Journal, consideram que a esquerda populista já chegou ao limite da sua possível expansão: The Populist Left’s High-Water Mark. Eis a razão porque assim pensam: “The problem with the left-wing version of populism is that its two key components—the anti-institutional stance and the antiausterity policies—are in tension with one another. Any attempt at substantively changing Europe’s economic response to the continuing crisis must work through the very institutions that these movements a lso want to challenge.”
 
E por hoje é tudo. Bom descanso e boas leituras. E ainda melhores “histórias intermináveis”.
 
Até amanhã. 

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ANTÓNIO FONSECA

 

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